Um ex-advogado que o acusa de subornar mulheres durante a campanha eleitoral e um ex-diretor de campanha com ligações muito próximas a oligarcas russos e recentemente condenado por crimes fiscais.
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No espaço de poucas horas, Donald Trump ficou a saber que o seu ex-diretor de campanha, Paul Manafort, pode enfrentar uma pena de prisão de 305 anos por crimes fiscais (que poderão estar relacionados com a interferência da Rússia nas eleições norte-americanas) e que o seu antigo advogado, Michael Cohen, se deu como culpado de oito crimes, alegando ter pago, a pedido do presidente, o silêncio de pelo menos duas mulheres que tiveram casos com Trump.
"O veredicto no julgamento de Manafort não é tão preocupante quanto as declarações de Cohen", disse o ex-assessor de Trump, Michael Caputo. "É provavelmente a pior coisa até agora em toda esta fase de investigação da presidência."
Um advogado republicano próximo da Casa Branca, ouvido pelo Politico, admitiu temer que as recentes decisões judiciais sejam o pretexto de que os democratas estavam à espera para avançarem com o "impeachment" (destituição) do presidente norte-americano, caso assumam em novembro a Câmara dos Representantes dos Estados Unidos da América. "É a única desculpa de que eles precisam", disse o advogado.
A realidade é que a líder da minoria do partido Democrata na Câmara, Nancy Pelosi, já veio publicamente afirmar que os veredictos contra Paul Manafort e Michael Cohen são "mais uma prova da corrupção desenfreada e da criminalidade dentro do círculo íntimo de Trump", embora em momento algum tenha anunciado quaisquer intenções de pedir o "impeachment" do presidente dos Estados Unidos.
O Caso Cohen: pagar o silêncio das amantes
Há já algum tempo que as autoridades norte-americanas investigavam alegados subornos a mulheres, feitos por Trump, durante a campanha eleitoral, com o objetivo de esconder casos comprometedores do passado.
O FBI também considerava que as leis de financiamento de campanhas eleitorais tinham sido violadas e, após buscas no escritório do antigo advogado de Donald Trump, Michael Cohen, foi apreendida uma gravação em que é possível ouvir o que parece ser Trump a discutir o suborno à ex-modelo da Playboy, Karen McDougal - com quem terá tido um caso em 2006, pouco depois de Melania Trump ter dado à luz o seu filho mais novo.
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A suposta amante de Donald Trump tentara vender a história ao tabloide norte-americano National Enquirer, mas a entrevista nunca chegou a ser publicada, uma vez que o diretor, David J. Pecker, é amigo pessoal de Trump.
A estas gravações, feitas em plena campanha e apenas a dois meses das eleições, juntaram-se mais de uma dezena de outros ficheiros áudio comprometedores, que revelavam casos com outras mulheres.
Esta terça-feira, Michael Cohen declarou-se culpado de cinco acusações de fraude fiscal, uma de fraude bancária e duas por violação das leis de financiamento das campanhas eleitorais, numa audiência no tribunal federal de Manhattan, em Nova Iorque.
O advogado de 51 anos, que esteve ao serviço de Donald Trump durante mais de uma década, revelou em tribunal ter pago as quantias de 130 mil e 150 mil dólares, respetivamente, a duas mulheres que afirmavam ter tido relacionamentos com o presidente norte-americano. Os valores correspondem aos pagamentos já conhecidos feitos não só à ex-modelo da Playboy como também à atriz pornográfica Stormy Daniels.
Os pagamentos, segundo Michael Cohen, terão sido ordenados pelo próprio Trump e serviriam para pagar o silêncio das mulheres, de modo a não comprometer a campanha para as eleições, que Trump acabaria por vencer em 2016.
O antigo advogado de Trump pode enfrentar uma pena máxima de cinco anos de prisão - mas ainda tem pendente uma outra acusação, de declaração fraudulenta a um banco, que pode valer uns adicionais 30 anos de cadeia.
O facto de Cohen já ter apontado em tribunal responsabilidades a Trump e a sua disponibilidade pública para colaborar com a Justiça a troco de uma redução da pena pode deixar muito fragilizada a posição do presidente dos Estados Unidos.
"Quando se pode dizer que o presidente ordenou a alguém que violasse a lei, isso é um problema. É um grande problema", comentou em declarações ao Politico, Mark Corallo, ex-assessor de Trump (que se demitiu do cargo, com a justificação de que acreditava que o presidente tivesse desrespeitado a lei).
Já esta quarta-feira, Trump finalmente reagiu às acusações de Michael Cohen no Twitter. "Michael Cohen declarou-se culpado em duas acusações de violação da lei de financiamento das campanhas que nem sequer são um crime. O Presidente Obama infringiu gravemente as leis de financiamento de campanhas e isso foi rapidamente resolvido", argumentou.
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"Se alguém está à procura de um bom advogado, recomendo fortemente que não escolham os serviços de Michael Cohen!", acrescentou.
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O Caso Manafort: fraudes com ligações à Rússia
No mesmo dia em que Michael Cohen se declarou culpado perante a Justiça, também o antigo diretor de campanha de Trump, Paul Manafort, foi considerado culpado de oito crimes por fraude bancária e fiscal.
Embora, ao contrário de Cohen, Manafort se tenha declarado inocente, arrisca vir a passar o resto da vida na cadeia - para já, a pena em causa prevê 305 anos de prisão. É acusado de ter apresentado declarações de rendimentos falsas, entre 2010 e 2014, e ter falhado a comunicação de contas bancárias no estrangeiro.
Paul Manafort, de 69 anos, é um lobista e consultor político que, antes de assumir a direção da campanha de Trump, trabalhou como conselheiro do presidente ucraniano Viktor Yanukovych - que acabou deposto em 2014, depois de grandes protestos populares pela sua aproximação à Rússia.
Depois da deposição do presidente ucraniano, e devido à falta de clientes, Manafort usaria grandes empréstimos para sustentar o seu estilo de vida luxuoso (a acusação fez questão de descrever gastos exorbitantes, como 15 mil dólares num casaco de pele de avestruz e 450 mil dólares em decoração na sua casa de férias nos Hamptons - incluindo uma cama de flores em forma de "M". Tudo pago através de transferências de bancos estrangeiros.
Manafort terá ganho mais de 60 milhões de dólares na Ucrânia e escondido esse dinheiro em contas offshore no Chipre e nas ilhas Granadinas, transferindo parte do dinheiro para os EUA sem pagar impostos.
Os veredictos não implicam diretamente Donald Trump mas podem trazer desenvolvimentos à investigação sobre a interferência da Rússia nas eleições de 2016, com vista ao favorecimento do então candidato republicano. Há suspeitas de que as dificuldades financeiras do ex-diretor de campanha de Trump e as relações próximas que mantinha com a Ucrânia e a Rússia possam tê-lo deixado vulnerável à iniciativa russa.
Ainda não há uma data para a leitura da sentença de Paul Manafort, uma vez que o júri não chegou a consenso quanto a 10 outras acusações, que a acusação tem agora de decidir se reformula ou abandona.
A única esperança para Manafort evitar uma pena de prisão perpétua será um perdão ou comutação da pena por parte do presidente norte-americano. Vários analistas têm considerado que esse é um cenário provável, uma vez que Donald Trump tem falado publicamente sobre a injustiça da decisão, naquilo que classifica como uma "caça às bruxas".
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"Tenho muita pena do Paul Manafort e da sua maravilhosa família. A 'Justiça' pegou num caso de impostos com 12 anos, entre outras coisas, exerceu uma pressão tremenda sobre ele e, ao contrário do Michael Cohen, ele recusou-se a 'quebrar' - e inventar histórias para conseguir um 'acordo", afirmou Donald Trump no Twitter, esta quarta-feira. "Muito respeito por um homem tão corajoso!", acrescentou.
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A defesa de Manafort já disse estar "muito contente" por saber que o presidente Trump estava a apoiá-lo.
Um cenário negro para Trump
Manafort é já a sexta pessoa condenada no âmbito das várias investigações conduzidas pela equipa do procurador especial Robert Mueller, depois de Michael Flynn, ex-conselheiro de Trump para a segurança nacional, e George Papadopoulos, conselheiro para os assuntos externos, terem também sido considerados culpados.
Há dias, o The New York Times avançou a história de que Don McGahn, conselheiro da Casa Branca, estará envolvido na investigação à interferência da Rússia nas eleições presidenciais dos EUA e, a juntar ao prato, também o deputado republicano Duncan Hunter, que endossa o congresso de Trump, foi acusado de desviar fundos da campanha para pagar despesas pessoais e Chris Collins, outro dos republicanos a endossar Trump, foi acusado de fraude.
As últimas sondagens mostram que a maioria dos americanos não vê com bons olhos os recentes resultados destas investigações à comitiva de Trump, mas, para já, a equipa do presidente norte-americano afasta preocupações sobre o assunto. Em relação à última polémica dos subornos às ex-amantes do presidente, dizem que é a palavra de Cohen contra a palavra de Trump - e que a palavra de Cohen não goza de grande credibilidade.
Para já, segundo declarações de um ex-funcionário anónimo da Casa Branca ao Politico, o que a comitiva está a tentar fazer é minimizar os danos que o presidente dos Estados Unidos pode provocar a si mesmo. "As suas ações não são exatamente coisas que o ajudariam num processo judicial", afirma.
O funcionário revela mesmo que, para convencê-lo a não fazer ou dizer coisas que possam prejudicar a sua imagem, a equipa de Donald Trump tenta distraí-lo, por exemplo, com "jogos de golfe". "Quanto mais ocupado ele estiver, menos provável é que fique irritado", disse.
A julgar pelos recentes tweets, parece que ninguém levou Trump a jogar golfe nos últimos tempos.