O contrabandista de brinquedos que levou esperança às crianças sírias quer fazer o mesmo noutras partes do mundo
Rami Adham estava em casa, na Finlândia, quando chegou ao fim a ditadura Assad. Duas semanas depois estava a caminho da Síria onde ainda continua. Em declarações à TSF, diz ser surreal poder guiar pela cidade de Aleppo sem medo de ser atingido por uma bomba ou uma bala
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Rami Adham diz que o ambiente que se vive na Síria é de liberdade, mas ainda precisa de interiorizar que uma ditadura, que passou de pai para filho, tenha acabado. A TSF falou com este sírio pela primeira vez, em 2016, quando visitava a região de Aleppo para distribuir brinquedos pelas crianças. Era conhecido como o contrabandista de brinquedos, agora está de regresso para ajudar na reconstrução.
Quando regressou ao país, Rami Adham fez questão de visitar as crianças que ajudou ao longo desta ultima década: "A primeira coisa que fiz quando cheguei foi passar pelos campos de refugiados onde costumava trabalhar e ajudar. Fui lá e quis reencontrar as crianças, que nesta altura já não são crianças. Foi bom vê-las cheias de esperança de que poderão regressar às suas terras e casas." Ainda assim, reconhece que muitas das crianças não têm casas para onde voltar e é por isso que quer ajudar na reconstrução do país.
Rami Adham tem planos para levar para a Síria máquinas que permitam reciclar todo o entulho dos prédios destruídos e transformá-lo em algo que possa ser usado no futuro. O maior projeto que tem é, no entanto, a criação de uma fábrica de brinquedos. Ele quer fazer por outras crianças do mundo o mesmo que fez pelas da Síria: levar-lhes esperança nos momentos mais negros. Este sírio ressalva, contudo, que para o projeto avançar é preciso que a situação melhore e, para isso, a comunidade internacional tem de ajudar.
"O meu maior receio em relação ao país é que o mundo não aceite esta vitória e mantenha as sanções. As sanções têm de ser levantadas porque foram impostas ao regime de Assad e agora que ele acabou as sanções devem também acabar", argumenta.
Rami Adham entende as precauções do ocidente, admite que o Presidente interino já foi um radical, mas lembra que esse processo aconteceu quando era um adolescente e foi para o Iraque ajudar a combater os ocupantes. Desde que regressou ao país, desvinculou-se da Al-Qaeda, ajudou a combater o Estado Islâmico e nunca representou qualquer ameaça para o exterior. Ele acredita que Ahmed Al Sharaa é agora uma pessoa diferente e, tanto ele como o Governo, têm cumprido o que prometeram. Até agora as minorias do país têm sido protegidas e não houve medidas que se possa dizer que são extremistas.