A Maison & Objet é uma das maiores feiras internacionais da decoração e do design. A edição de setembro fechou portas esta terça-feira e contou com a presença de 89 empresas portuguesas que apaixonaram Paris.
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Duas vezes por ano, a caverna de Ali Baba da feira Maison & Objet, na regiāo parisiense Seine-saint-Denis, abre as portas aos profissionais da decoração. É a ocasião para conferir as últimas tendências do mercado, ao longo de cinco dias.
Este ano, a feira internacional repensou o espaço e propôs um percurso mais fluido que permitiu a exposição de 3.000 marcas, 600 das quais estreantes - e dezenas com bandeira portuguesa.
"Portugal está bem representado. É bom porque reflete que as exportações existem por alguma razão. Temos trabalhado muito", descreve Miguel Rodrigues, representante da Adico, empresa que produz mobiliário metálico e que, apesar de ser das mais antigas neste setor de atividade, só este ano veio pela primeira vez ao certame.
"Somos a empresa que produz a tradicional cadeira portuguesa, estamos aqui pela primeira vez e está a correr muito bem", afirma, acrescentando que a marca está espalhada por 18 países, mas a internacionalização só arrancou nos últimos cinco anos "de forma mais objetiva e mais séria". O mercado francês, onde a Adico nunca apostou, foi deixado para um segundo plano, até que há seis meses fizeram essa aposta "porque ele próprio nos procurou. Achámos que devíamos dar uma resposta rápida e estamos aqui».
Nos últimos anos, feiras como a Maison & Objet deixaram de ser pontos de venda para assumirem um novo papel: montras privilegiadas para troca de contactos. "Tanto a Adico como outras empresas, de colegas com quem conversei, têm conseguido fazer vendas contrariamente ao que tínhamos previsto», afirma este responsável.
"O balanço é positivo para Portugal. A crise deu-nos um abanão grande e permitiu duas coisas", revela Miguel Gonçalves: "permitiu às empresas saírem mais rapidamente do país, mas o que me parece mais importante é que passou a haver uma cooperação mais importante entre as empresas. Sou gestor há 30 anos e luto por esta cooperação. Acho que unidos somos muito mais fortes, inclusive empresas concorrentes, e isso não acontecia", aponta o empresário.
Criada há seis anos, a Hakaba é outra marca portuguesa, fabrica mobiliário embutido e, nos últimos dois anos, começou a apostar na internacionalização. Está em Paris para "entrar em novos mercados", descreveu a responsável da marca Nélia André. Satisfeita com esta participação, afirma ter recebido "muitos elogios ao mobiliário simples, que traz alguma diferença porque a marca se destaca dos restantes, com projetos à medida".
Amália Home Collection é a marca da empresa familiar ACL Impex, que já vai na quarta geração. A empresa foi fundada em 1922 e inspira-se agora em Portugal e nas suas paisagens. Pela primeira vez em Paris, Sara Lima, a responsável, diz que "quase toda a nossa produção é para exportação. Para além dos EUA, a marca exporta para o Vietname, China ou Inglaterra. Em França estamos a tentar vender para pequenas lojas".
A feira Maison & Objet é uma das feiras de design mais importantes do mundo, reservada aos profissionais. Diana Martins, designer portuguesa de 33 anos, esteve por estes dias a conhecer novos fornecedores, materiais, marcas e a fazer contactos.
Diz que as marcas portuguesas estão cada vez mais presentes em grandes feiras porque "infelizmente, muitas têm um mercado unicamente estrangeiro, com poder de compra para certos tipos de produtos. Como muitos deles sāo feitos à māo, têm um custo de produção maior. O mercado internacional veio valorizar as marcas portuguesas" que, pouco a pouco, ganham espaço e são reconhecidas também em Portugal.
A Sugo Cork Rugs trouxe a Paris tapetes decorativos feitos com cortiça. A marca criada por Susana Godinho, designer têxtil com 18 anos de experiência da área de tapeçaria e moda, foi a segunda startup lançada pela Amorim Cork Ventures e é a única incubadora do mundo dedicada ao uso de técnicas tradicionais de tapeçaria com introdução de uma fita especial de cortiça. Sāo tapetes invulgares e não há igual no mercado.
"Fomos os primeiros e somos os únicos, neste momento, com uma patente internacional". A inovação vem do uso da cortiça, "todos os nossos tapetes têm fibras naturais com teias em linho que sāo tramados com algodão ou com lā, mas sempre com cortiça. Além de ser um material natural e vegetal e de ter propriedades antialérgicas, têm algumas vantagens. A cortiça colocada num tapete dá-lhe um isolamento acústico e térmico. Esta matéria é composta por milhões de células de oxigénio, logo vai melhorar a qualidade do ar interior", descreve a designer portuguesa.
Os organizadores do evento souberam integrar as novas plataformas, pôr em cena as últimas tendências nas redes sociais e apresentar as marcas em função do seu potencial « instangramável». A agência NellyRodi descreve a "showroomizaçāo" dos projetos para particulares, "onde os pratos fazem parte das decoração, os espelhos refletem a nossa paixão pelas selfies e onde as embalagens dos nossos objetos são escolhidas para serem expostas nas nossas prateleiras".