Esta terça-feira, Trump ou Biden, quem vencer nos Estados Unidos, irá certamente brindar com champanhe, mas em Lisboa a TSF encontrou um democrata com cerveja para todas as ocasiões.
Corpo do artigo
O cheiro amargo do malte não engana, estamos numa pequena fábrica de cerveja artesanal, na zona de Marvila, em Lisboa. Em 2012, o americano Scott Steffens trocou Seattle, nos Estados Unidos, por Lisboa e começou a fabricar cerveja. Aproveitamos que estamos perante um especialista em alquimias e atiramos: Se os candidatos à presidência dos estados unidos fossem cervejas como seriam? A resposta surge por entre gargalhadas: "Trump seria uma que tivesse ficado contaminada durante a produção. Biden seria uma suave talve, não muito interessante, mas que cumprisse a função."
TSF\audio\2020\11\noticias\03\z_rui_polonio_cerveja_democrata_trad_online_vfinal_
Embora Biden não encha o palato, o voto deste americano de 47 anos já seguiu por correio e foi direitinho para os democratas. Eles estão em linha com o mundo em que eu quero viver. Neste momento temos um presidente de exceção que não segue quaisquer regras. No fundo quero vê-lo fora do governo. Há algumas zonas cinzentas, mas vou votar Biden. Isso é o mais importante", justifica.
Biden seria uma cerveja suave, talvez não muito interessante, mas que cumprisse a função
"Esta chama-se 'The Future is Uncertain' (o futuro é incerto) daqui a uns dias sai uma nova, chama-se caos em câmara lenta." Há muitas dúvidas no ar. "Por entre pipas de carvalho com marcas de vinhos e conhaques, Scott Steffens parece discorrer sobre o estado do mundo. Mas não se deixe enganar, embora pareça estar a comentar o estado do mundo, é de cerveja que este americano fala, "temos dado nomes a algumas das nossas cervejas que são um reflexo dos tempos incertos que vivemos", acrescenta.
Feita a partir de lupo importado da Alemanha, um terço da cerveja aqui produzida destina-se à exportação. Imigrante em Portugal, Scott não poupa a política nacionalista de Trump e acusa os republicanos de usurpar a identidade americana. "Decididamente, não penso que o Partido Republicano seja dono dos valores americanos. Ter cuidados de saúde, ter uma rede de segurança social também são valores americanos. Não é tudo sobre armas, descer impostos e medidas do género. Há mais formas de ser patriótico do que o partido republicano nos quer fazer acreditar".
A América de Scott Steffens não é feita de homens armados pelas ruas. Admitindo que resolver problemas como o racismo e a violência policial não está nas mãos do presidente, sublinha, no entanto, que muita da crispação em que os Estados Unidos vivem é culpa de Trump. "Os portugueses muitas vezes dizem que pensam que anda toda a gente armada. Não é verdade. Isso é pouco habitual. Não sei. Estou fora há oito anos e talvez as coisas tenham mudado um pouco. Temos um tipo armado em valentão presidente e isso faz aumentar os comportamentos bully entre a população. Por isso é que há mais massacres, tiroteios ou motins. As pessoas vêm sempre o presidente como o modelo a seguir e quando o presidente tem comportamentos agressivos isso reflete-se no país."
O mar, que não é de cerveja, separa Portugal e a América do Norte não é suficiente para quebrar laços. "Ainda sinto uma grande ligação. Vejo todos os dias as notícias, ainda tenho lá família e amigos." De resto Scott assegura que ainda se sente afetado pela política americana. "Os Estados Unidos têm uma influência desmesurada no mundo", explica.
Talvez por isso, este americano nem quer ouvir falar de uma vitória de Trump. "Se ele voltar a vencer, vão ser mais quatro anos muito duros." Mas o americano acredita que esta é também a opinião da maior parte dos eleitores. "Na última vez ele também não teve a maioria dos votos, mas como temos um sistema eleitoral arcaico, tornou-se o nosso presidente. Ganhou o colégio eleitoral e tivemos de lidar com isso", lembra.
E como é que um americano em Lisboa, fora do país desde o segundo mandato de Obama vê a administração Trump? "É sobretudo um sentimento de frustração. Ver a forma como ele lidou, ou melhor dizendo, não lidou com a pandemia. Neste momento vejo-os Estados Unidos um pouco à semelhança do Brasil de Bolsonaro, ou no Reino Unido com Boris Johnson: Temos um como nosso líder uma espécie de fanfarrão que não segue as normas da civilização."
Tal como há quatro anos as sondagens dão uma vantagem ligeira ao candidato democrata, no entanto Scott acredita que desta vez o desfecho vai ser diferente. "As sondagens tinham que estar muito mais erradas do que da última vez. O americano acrescenta que, "agora é Trump que está no poder. Penso que desta vez vai ser um referendo ao mandato do Presidente. Por isso, acredito que as sondagens são mais verdadeiras."
"Mais caos, mais agressões ao sistema são tudo coisas que podem jogar a favor dele se a eleição for renhida." Scott fala agora da ameaça que o Presidente americano tem deixado no ar: Pode não aceitar uma derrota, mas o cervejeiro espera que o resultado não deixe margens para dúvidas. Não sei. Veremos. Não receio isso, porque espero que não seja uma eleição muito renhida", acrescenta.
Seja qual for o resultado desta noite em casa de Scott vai haver cerveja. "A cerveja é boa para celebrar, mas também para afogar as mágoas", assegura. E a avaliar pela amostra não falta por onde escolher. "Talvez uma Born Rich", sugere apontando para um rótulo com um jogador de polo em cima de um avestruz. É essa a de Trump? "Talvez, afinal de contas, os ricos gostam de se montar em cima de qualquer coisa."