Geert Wilders está em segundo lugar nas sondagens sobre as eleições holandesas, mas dificilmente chegará ao governo porque nenhum dos outros partidos quer coligar-se com ele. Saiba porquê.
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Paul Rutte , o atual primeiro-ministro holandês de centro-direita, não esquece o momento, em 2012, quando Geert Wilders, da extrema-direita, lhe retirou o apoio parlamentar, provocando eleições antecipadas. Garante, por isso, que "há zero hipóteses" de um governo que junte os dois partidos que lideram as sondagens na Holanda.
"Ele foge quando as coisas se complicam", disse em entrevista ao Financial Times. E, no debate da última segunda-feira, Rutte não deixou escapar a ocasião de dizer a Wilders que existe uma diferença entre "tuitar do sofá e governar o país".
Os constantes tuítes de Geert Wilders, a par das posições radicais contra a imigração de muçulmanos e o isolacionismo que defende para a Holanda já lhe valeram, no plano internacional, a comparação com Donald Trump.
O farto cabelo que pinta de um louro fulgurante criou, na Holanda, as alcunhas de "Mozart" ou de "Capitão Peróxido" (por causa do tom oxigenado).
Wilders é filho de uma indonésia e de um holandês, mas deixa de fora os antepassados e até mudou o sotaque.
O líder do Partido da Liberdade (PVV) começou por trabalhar na área dos seguros, trilhou o caminho político no Partido Liberal Democrata (VVD), onde escrevia discursos. Acabou por ser eleito em 1998 para o parlamento holandês, mas saiu em divergência "irreconciliável" com os liberais sobre a política europeia.
Em 2006, na estreia eleitoral, o novo partido PVV obteve seis deputados e, no ano seguinte, Geert Wilders foi considerado, pela imprensa holandesa, "político do ano".
O programa que apresenta resume-se a um manifesto de 11 pontos, quase todos contra os muçulmanos. As posições contra o Islão estão estampadas na conta de Twitter, onde se pode ler "Stop Islam".
Wilders quer fechar as mesquitas, proibir a entrada de muçulmanos e banir o Corão (livro sagrado para os muçulmanos, comparado pelo líder do PVV ao "Mein Kampf" de Hittler , livro que "também foi proibido na Holanda").
Geert Wilders vive rodeado de seguranças, viaja num veículo especial, veste colete antibalas e vive numa casa com medidas especiais de segurança. Até mesmo o gabinete no Parlamento é de difícil acesso para evitar eventuais ataques.
Wilders queixa-se do "cerco" à sua vida pessoal. Por motivos de segurança, só uma a duas vezes por semana se encontra com a mulher, uma antiga diplomata húngara. "Metade da Holanda ama-me, a outra metade odeia-me. Não há meio-termo", diz. Nesta campanha, evitou ao máximo comícios e até debates. Preferiu as selfies com os apoiantes.
Numa campanha onde a imigração foi tema chave, Wilders deixou a marca, levando o partido Liberal de Paul Rutte a comprar um anúncio de página inteira para estampar o slogan "Sejam normais ou saiam". Essa tentativa de neutralizar o PPV pode sair cara se tiver o mesmo efeito que David Cameron obteve ao tentar suplantar o radicalismo de Nigel Farage, na campanha do Brexit.
De qualquer forma, a proposta de Wilders para um "Nexit" não parece recolher apoio num eleitorado maioritariamente favorável à União Europeia.
O desfecho destas eleições na Holanda, as primeiras deste o Brexit e desde que Donald Trump foi eleito presidente dos Estados Unidos, é encarado como um balão de ensaio para outras eleições, como as alemãs e as francesas, onde os partidos que tradicionalmente lideram as democracias liberais surgem em declínio.
Num cenário político hiper-fragmentado, são reduzidas as hipóteses de algum partido obter uma maioria absoluta. Resta um longo processo negocial, um governo formado por quatro ou cinco partidos e, caso se confirme a promessa das forças partidárias de não aceitarem governar com Geert Wilders, um lugar para o PPV como líder da oposição. Será talvez esse o papel que melhor lhe convém.