America Countdown… 75 dias. O improvável consenso democrata e a lucidez habitual de Michelle
Germano Almeida, autor de quatro livros sobre presidências americanas, faz na TSF uma contagem decrescente para as eleições nos Estados Unidos. Uma crónica com os principais destaques da corrida à Casa Branca para acompanhar todos os dias.
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1 - A PACIFICAÇÃO INESPERADA (MAS AGORA PROVÁVEL)
As coisas podem mudar mesmo muito na política americana. E em pouco tempo. Quem se lembra do modo como decorreu a primeira fase das primárias democrata sabe como parecia improvável pensar num clima de consenso em torno de um candidato da ala moderada e institucional. O ar do tempo parecia o oposto. Bernie Sanders e Elizabeth Warren dominavam a agenda. A via de reação aos anos Trump parecia ser o de impor um forte cunho ideológico de sinal oposto. "Os tempos estão para os extremos e não para moderados e centristas", dizíamos quase todos. Mas não é bem isso que está a acontecer. Bernie Sanders apontou, no dia do arranque da Convenção (virtual) de Milwaukee: "Joe Biden tem tudo para ser o Presidente mais progressista desde Franklin Roosevelt". Depois de agregar o apoio dos moderados e pragmáticos (Pete Buttigieg, Beto O"Rourke, Amy Klobuchar), Joe Biden conseguiu o endosso dos mais esquerdistas (Elizabeth Warren, Bernie Sanders) e, como cereja no topo do bolo, tomou a boa opção de juntar Kamala Harris (talvez quem, no campo democrata, melhor consiga fazer a ponte entre os moderados e os progressistas).
2 - MICHELLE FOI AO PONTO. COMO QUASE SEMPRE
É, de longe, a pessoa mais apreciada e popular na América (muito acima do marido, muito acima de Biden, muito acima de Hillary, muito acima de Trump). Mas, para tristeza de milhões de apoiantes e admiradores, nunca quis nada com a política, enquanto possível carreira pessoal. Michelle Robinson Obama, Primeira Dama dos EUA entre janeiro de 2009 e janeiro de 2017, em discurso de 19 minutos no arranque da Convenção que está a investir Joe Biden como nomeado presidencial democrata 2020, foi ao ponto, como quase sempre tem feito nos últimos anos: "Donald Trump tem uma chocante falta de empatia. É o presidente errado para o nosso país. Teve mais do que tempo de provar o que podia fazer no cargo, mas claramente não está à altura do momento. Ele simplesmente não consegue ser o precisava de ser nesta altura. As coisas são como são. E acreditem: se apenas acham que as coisas não podem ser piores do que são nesta altura, olhem que podem. E serão, se não escolhermos fazer uma mudança nesta eleição. Se quisermos ter alguma esperança que as coisas melhorem e que possamos pôr um fim a este caos, temos que votar em Joe Biden. As nossas vidas dependem disso".
UMA INTERROGAÇÃO: Vão as mulheres brancas, que em 2016 votaram mais em Trump que em Hillary, voltar a uma preferência democrática em 2020?
UM ESTADO: Delaware
Resultado em 2016: Hillary 53,4%-Trump 41,9%
Resultado em 2012: Obama 58,6%-Romney 40,0%
Resultado em 2008: Obama 61,9%-McCain 36,9%
Resultado em 2004: Kerry 53,3%-Bush 45,8%
(nas últimas 12 eleições presidenciais, 8 vitórias democratas, 4 vitórias republicanas - AS 7 ÚLTIMAS FORAM DEMOCRATAS)
-- O Delaware tem 974 mil habitantes: 61,7% brancos, 9,6% hispânicos, 23,2% negros, 4,1% asiáticos; 51,7% mulheres
10 VOTOS NO COLÉGIO ELEITORAL
UMA SONDAGEM: Delaware - Biden 56/Trump 40
(Gonzales Reaearch & Marketing Strategies Inc 19-21 junho)