Jordi e a tia Nuria encontram-se com a TSF na Praça da Catalunha e contam por que vão votar pela independência, lembram as consequências da ditadura e sublinham as idiossincrasias dos catalães.
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Jordi Bossa desconstrói um sentimento. Independentista dos quatro costados, diz que há, nesse desejo, muito de irracional: "Há uma parte irracional nos independentistas. Nascemos independentistas e no fundo é um sentimento irracional. É assim..."
A tia Nuria acena afirmativamente. Encontramo-nos num café perto da Praça Catalunha. Jordi é economista, vem do trabalho, de fato e com um capacete debaixo do braço. A tia chega a pé, com um cachecol amarelo atado em forma de laço, símbolo independentista pela libertação dos governantes que foram presos. "Somos diferentes, pensamos diferente, falamos diferente, trabalhamos diferente", diz ela.
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Jordi ensaia uma explicação para essa diferença: "A Catalunha é muito mais progressista que o resto de Espanha, muito mais conservadora. Aqui, nos últimos anos, tentámos aplicar leis de poupança energética, disseram-nos que não, leis de uma renda mínima, disseram-nos que não, leis para taxar as grandes fortunas, disseram-nos que não, leis para taxar os apartamentos vazios em favor das pessoas mais necessitadas, disseram-nos que não... É um conceito diferente - nem melhor, nem pior, diferente. No fundo, estamos há muitos anos a tentar melhorias que o Governo espanhol não está disposto a negociar com a Catalunha".
No início do mês, estiveram ambos em Bruxelas, numa manifestação que juntou 45 mil pessoas, segundo os números da polícia belga. Nuria diz que "parecia uma enorme família". Jordi conta que foi de autocarro por uma questão económica. "Fui eu, a minha mulher, a minha filha e uma cunhada. E depois foi a minha tia de avião, a minha sogra de carro e muitos amigos de carro ou de avião".
Jordi viajou de noite com a família, manifestou-se, voltou a meter-se no autocarro e voltou para casa. Diz que vale a pena lutar por um ideal. Se isso vai ou não ter consequências, essa é a questão...
"Há uma parte muito significativa da população - que nunca sabemos se é mais ou menos de 50% - que quer mudanças profundas na sociedade catalã, tanto a nível económico, como cultural, ou a outros níveis. E temos um governo que é incapaz de propor uma solução a esta exigência", sublinha.
Depois de um clima muito tenso que se gerou logo a seguir ao referendo, o economista que trabalha numa empresa de construção assegura que agora as coisas estão mais calmas. "Eu acho que as pessoas em geral estão mais relaxadas. Os dois grupos, os independentistas e os constitucionalistas, estão mais relaxados, na rua. Na política, é outra coisa. No trabalho, as pessoas entravam em confrontos. Agora, estão mais tranquilas e em expectativa em relação ao dia 21".
Na cidade, há poucos sinais de campanha eleitoral. Jordi diz que é normal. Há muito tempo que aqui a campanha se centra mais nas televisões do que nas ruas. Isso não inibe a participação. As estimativas dizem que a taxa de abstenção será bastante baixa, deverá rondar os 20%.
Jordi e Nuria votam pela independência, lembram as consequências da ditadura, sublinham as idiossincrasias dos catalães. É um voto pela língua, pela cultura, pela sensação de pertença a um povo, por um certo sentimento irracional.