O lado negro do protesto amarelo. Como os Coletes estão a ser "catastróficos" para o comércio tradicional
A quadra natalícia, propícia a um grande volume de vendas, sofreu um declínio considerável no número de negócios realizados em França.
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A confederação dos comerciantes de França estimou que o movimento Coletes Amarelos "representa um verdadeiro desastre" para o setor. Os números falam por si e indicam um declínio do volume de negócios entre 40% e 70% nesta quadra natalícia.
"É uma verdadeira catástrofe, também psicológica. Espero que este sábado seja o último dia de manifestação", declarou Francis Palombi, o presidente da confederação, à rádio France Inter.
Nesta época crucial para o comércio, o volume de negócios "tem sido um desastre", contam alguns comerciantes na Avenida da Ópera, que se tornou um dos pontos centrais para as manifestações dos Coletes Amarelos.
O movimento, que está nas ruas desde novembro, tem obrigado as lojas parisienses a fechar as portas, por recomendação das forças de segurança francesas. Neste contexto, o volume de negócios do final do ano caiu radicalmente. Segundo Sarah, comerciante numa chocolataria, "antes do final do dia, a caixa está a 700 euros, em vez dos 5.000 habituais, o que para um sábado é catastrófico, pelo que tentamos vender mais nos outros dias da semana".
Esta chocolataria foi obrigada a fechar as portas "quando começaram a chegar manifestantes. As forças de segurança ficaram em frente à nossa loja, a avenida estava fechada e ninguém podia passar", explicou a vendedora.
Taipas de madeira protegem as entradas das lojas da Avenida da Ópera, maioritariamente chocolatarias, lojas de roupa e bancos. São medidas de segurança para proteger "todos os bancos e algumas lojas. Não é muito estético, de facto. Os bancos podemos compreender, porque representam as finanças, de onde vem o Macron", descreve Paul Martin, varredor de rua no 9° bairro de Paris.
No sábado passado, cerca de 1.000 coletes amarelos estiveram presentes na praça da Ópera. Paul Martin diz ser "solidário com o movimento" e apoiá-lo. Neste bairro, que descreve como sendo "chique", Paul tem visto desfilar mais turistas do que franceses à procura das compras de natal. A prova "é que ninguém tem sacos de compras aqui à nossa volta".
Todas as quintas ou sextas-feiras, os comerciantes do bairro da Ópera reúnem-se para decidir se abrem ou fecham as lojas no sábado, "sempre de acordo com os ânimos dos Coletes Amarelos. Para o próximo sábado vamos ver o que fazemos", explica uma vendedora.
Apesar de uma crise notável no pequeno comércio, os lojistas apoiam o movimento, "apesar deste ser para nós um período complicado com as festas de final de ano. Aqui na Avenida da Ópera há muitas chocolatarias e confeitarias que estão a contar com o Natal para vender mais. Por isso, apoiamos os Coletes Amarelos, mas esperamos que tenham atitudes mais pacíficas", explica a vendedora.
A poucos dias do Natal, muitos preferem ficar em casa para fugir das manifestações, optando por fazer compras online. É o caso de Simon, que trabalha neste bairro parisiense e diz perceber que o comércio encerre "porque houve infiltrados agressivos nos Coletes Amarelos e é importante proteger as lojas. Só que estamos a chegar ao final do ano e este contexto representa uma baixa no volume de negócios. Voltamo-nos para outros meios e fazemos compras via internet."
Os que optam por sair de casa, como Pierre Albouy, bancário, optam por fazer as suas prendas de Natal durante a semana. "Não quis fazer compras nos sábados em que houve manifestações. Acho que para os comerciantes é uma verdadeira catástrofe", diz.
Para Pierre Albouy, as manifestações conduzem a uma crise no comércio tradicional, o que considera um paradoxo. "Os Coletes Amarelos reclamam um aumento dos rendimentos, mas para aumentar rendimentos é preciso criar riqueza. Se criarem condições para uma queda dos pequenos artesãos e comerciantes, os valores são destruídos. Se destruírem os valores não se podem aumentar os rendimentos, é a pescadinha de rabo na boca."
Mesmo se as manifestações parecem atenuar-se, os mais perseverantes prosseguem as ações para este sexto sábado consecutivo. Para 22 de dezembro está prevista uma manifestação em Versalhes, sendo que o Palácio anunciou que vai fechar "por precaução".
"O movimento tem de parar. Nove mortes, é também esta a realidade do movimento" afirmou o ministro do Interior, Christophe Castaner. "Se alguns, uma minoria, tentam continuar a fragilizar a vida económica do país, estão a assumir responsabilidades muito graves. Há vontade de prejudicar as instituições e bloquear o sistema", acrescentou o ministro.