Dennis Redmont, 77 anos, jornalista, foi correspondente da Associated Press em Lisboa em plena ditadura. Trabalhou mais de 35 anos em Itália. Conhece pessoalmente Mário Draghi.
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Chegou a 1963 a Portugal para trabalhar como correspondente da Associated Press (AP). Chegou a ser interrogado pela PIDE durante a ditadura salazarista e a receber ordem de expulsão, não concretizada. Foi para Roma. Depois, especializou-se em ditaduras. Seguiu para o Brasil, Argentina, Chile, antes de rumar novamente a Itália onde foi jornalista no ativo mais de 35 anos.
Conhece pessoalmente o antigo presidente do Banco Central Europeu, que agora vai chefiar o governo italiano: "O Mário Draghi é uma espécie de mágico, é uma pessoa que tem contactos com a Europa, tendo falado todos os dias com os líderes da França e da Alemanha e é um dos grandes nomes da Europa, pelo trabalho que fez como presidente do Banco Central Europeu (BCE)".
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Mas, para este veterano jornalista norte-americano que durante 25 anos foi o diretor da AP para o sul da Europa, a chegada de Draghi ao poder em Roma, significa mais: "quando o Kissinger fez a célebre pergunta "qual é o número de telefone para ligar para a Europa?", a Itália não estava no número. Como também não estava entre as pessoas a quem o presidente Biden ligou agora no início da sua presidência". Entende que Mário Draghi vai ter uma posição privilegiada na Europa, e "do ponto de vista interno, vai ter a possibilidade de distribuir fundos que ele conhece muito bem, e como sabemos a Itália é o maior recetor de fundos europeus para a recuperação".
A vantagem de ser jesuíta
A Redmont não parece despiciendo o facto de Draghi ter sido "educado pelos jesuítas", o que lhe permite entrar bem no Vaticano, "coisa que não se pode negligenciar no caso da Itália, porque o Papa também é jesuíta".
Na perspetiva do jornalista, o homem que foi governador do central italiano antes de assumir os destinos do BCE, "terá todos os seus colegas da banca italiana a ajudar nas negociações". Ou seja, não lhe faltará apoio do importante setor financeiro transalpino.
Importa perceber que tipo de liderança será Draghi capaz de ter para gerir os equilíbrios entre o Movimento 5 Estrelas, o Itália Viva, o Partido Democrático, a Lega de Salvini. Redmont não tem dúvidas: "É uma pessoa muito modesta, muito low profile, que não se dá ares, que é muito difícil de desequilibrar. É um técnico. Agora vamos ver, pela atuação dos ministros, o tipo de pessoa que ele vai ser" à frente do executivo.
Para o repórter nascido em Washington, que foi grande amigo de Snu Abecassis e cuja primeira grande reportagem foi sobre a morte do General Humberto Delgado, só pelo facto de formar governo, Mário Draghi "desestabilizou todos os partidos em Itália, porque todos eles têm uma alma europeia e uma alma antieuropeia".
O grande desafio
"Será, sem dúvida, colocar no devido lugar todos os fundos que a UE deu para Itália. Depois, é preciso vencer a pandemia. Como sabemos, Itália teve noventa mil mortos, 90 mil! Não é pouca coisa". Um terceiro aspeto relaciona-se "com a meritocracia, que em Itália não está a funcionar. É um país velho, um pouco também como Portugal, a idade média é 43 anos e, apesar da liderança dos partidos se ter renovado, é muito antiga com o próprio Matarella na beira dos oitenta anos e o resto da liderança da Itália é composto por pessoas que estão no topo das empresas há muitos anos". Em suma, para Dennis Redmont, "é preciso renovar a classe dirigente".