"O país irmão está a ser assassinado pelo Presidente, e isso exige uma posição" de Marcelo
O cineasta Sérgio Tréfaut apela a Marcelo Rebelo de Sousa que se posicione "sobre o genocídio e os atentados à democracia no Brasil" e diz que países irmãos não podem escusar-se a manifestar preocupação quanto a um Presidente que "assassina" um Estado.
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O cineasta Sérgio Tréfaut pede a Marcelo Rebelo de Sousa que condene aquilo que considera serem desrespeitos pela democracia do Brasil. Numa carta aberta ao Presidente da República, Tréfaut assinala que "quem cala, consente".
Ouvido pela TSF, o realizador afirma que, quando "o país irmão está a morrer", é necessária uma posição política de Portugal. Entre as sugestões do cineasta constam um pedido de esclarecimentos ao embaixador do Brasil e movimento de pressão internacional contra Jair Bolsonaro.
"O país irmão está numa situação de desastre, o país irmão está a morrer, o país irmão está a ser assassinado por um Presidente, e isso exige uma posição política", exorta Sérgio Tréfaut. Para o realizador, além da estreita relação histórica entre Portugal e Brasil, há outras razões que tornam o Presidente português a figura mais capaz de intervir. "Tenho estima pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Há algo de sensível e de sensato tantas vezes na sua posição... É um homem inteligentíssimo, que acompanha com detalhe o que acontece no Brasil e que não pode mais escusar-se, em facilidades diplomáticas."
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Sérgio Tréfaut não tem dúvidas: "Marcelo é mais do que um diplomata, e ele sabe que um Presidente da República pode muito. Ele pronuncia-se sobre muita coisa, pode chamar o embaixador do Brasil e pedir explicações pela comunidade portuguesa no Brasil, pode não se calar... Há formas de, sem pisar a linha, sem cortar relações diplomáticas, mostrar de que lado se está, e Marcelo Rebelo de Sousa tem essa obrigação."
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Está em preparação uma petição e ainda uma manifestação que solicita a demonstração de apoio dos portugueses aos "irmãos" brasileiros, conforme conta à TSF o cineasta. "Há uma petição que está a ser fechada com a assinatura de todos os portugueses pedindo, num primeiro momento, que a Assembleia da República se pronuncie sobre o genocídio e os atentados à democracia no Brasil. Ainda não está decidida uma data para uma manifestação, mas esta manifestação não será para os brasileiros. Será para a sociedade portuguesa pedir a solidariedade dos portugueses."
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O realizador faz menção a um episódio da libertação de Timor-Leste ("massacre" do cemitério de Santa Cruz) para ilustrar a necessidade de os países vincarem uma posição quanto a possíveis situações de abusos democráticos nos Estados com que mantêm relações de grande proximidade. "Eu lembro-me do que aconteceu há 30 anos, quando, num cemitério de Díli, foram assassinadas [mais de] 300 pessoas e um milhão de portugueses estavam nas ruas. No Brasil já morreram mais de 35 mil pessoas por uma vontade do Governo. Dirijo-me aos poderes portugueses: não estejam calados."
Carlos Vianna, um dos fundadores da Casa do Brasil em Lisboa, subscreve o apelo ao Presidente da República portuguesa. "Portugal, pelos seus tremendos laços com o Brasil, não pode ficar indiferente. Essa solidariedade não pode vir apenas do povo, mas também de instâncias maiores."
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"Eu entendo que essa solidariedade de um Presidente ou de um Governo possa manifestar-se de uma forma mais diplomática, mais discreta, mas não podem ficar indiferentes ou achar que as relações ao nível do Governo serão iguais quando, do outro lado, está um homem desvairado e de ideologia fascista evidente", reconhece Carlos Vianna, ouvido pela TSF.
O representante da Casa do Brasil em Lisboa acredita "o 10 de junho é uma boa desculpa [para uma declaração política], porque há muitos portugueses a viver no Brasil".
Carlos Vianna conclui: "Eu gostaria de ouvir uma frase que denotasse preocupação com os acontecimentos anormais, quer na gestão da pandemia, quer na falta de diálogo político. Se há uma pessoa hábil no falar, essa pessoa é Marcelo Rebelo de Sousa, que tem o domínio da língua, da palavra escrita e da oralidade excecional. É uma mente privilegiada e saberá dizer coisas que a opinião pública saberá interpretar."
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