"Fired up! Ready to go!" Deixar a vida em stand by aos 31 anos não é a decisão mais fácil do mundo. Mas foi isso que Gonçalo Castel-Branco fez em 2012, quando decidiu rumar aos Estados Unidos para participar como voluntário na campanha para a reeleição de Barack Obama.
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Eram quatro horas da manhã quando, por impulso, resolveu comprar o bilhete. A irmã preparou-lhe um jantar de despedida e os amigos questionavam-se sobre o que iria fazer para os Estados Unidos. Com uma carreira já estabelecida em Portugal em estratégia política, como é que alguém espera aprender alguma coisa a servir cafés ou a tirar fotocópias? Não tinha nada garantido e a razão que o levara a tomar a decisão era simples: "queria participar, queria poder dizer à minha filha que é importante envolvermo-nos nas coisas em que acreditamos, porque quando não o fazemos o que acontece é o Trump!"
Em pouco mais de 24 horas os seus planos saíram todos ao lado. Perdeu o primeiro avião e quando finalmente aterrou o bilhete para a convenção tinha sido cancelado por causa da chuva. Com uma dose de simpatia e alguma sorte à mistura, o que parecia ser um desastre anunciado transformou-se numa inesperada aventura.
"Sentei-me no lobby do Ritz porque tinha internet grátis." A cidade estava a abarrotar e "havia um ambiente inacreditável, respirava-se política por todo o lado." Pouco tempo depois, no Ritz, duas pessoas aproximaram-se e pediram-lhe "se podiam partilhar a mesa". Um deles, viria a descobrir umas horas depois, era o responsável pelas relações institucionais de uma das maiores multinacionais do mundo. Meteram conversa e, ao fim de poucos minutos, Gonçalo era convidado para ir à convenção com uma credencial VIP que lhe concedia acesso a zonas restritas e que lhe abria portas que jamais poderia imaginar.
Conheceu senadores, poderosos lobistas e entrou pela porta grande na convenção que haveria de confirmar Obama como candidato oficial. "A conferência foi mágica. Não vale a pena perder tempo a dizer o quão incrível é para um tipo como eu estar ali... ver a Gabrielle Giffords a subir ao palco, ver o James Taylor e os Foo Figthers a tocar e, claro, ver o Obama a discursar. Foi mágico!"
A integração na campanha de Obama começou por baixo, pelas bases. Integrou uma equipa de "Get Out the Vote", no fundo, garantir que as pessoas iam votar. A sede onde trabalhou pertencia a um "swing state", a Virginia. "Uma campanha profissional divide-se em duas áreas, por um lado convencer os eleitores da mensagem, por outro lado convencê-los a irem votar no dia certo, na hora certa e no local certo".
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Andou de porta em porta e fazia chamadas na sede de campanha durante o dia. À noite frequentava jantares de angariações onde se cruzava com alguns dos nomes mais importantes do maior palco da política mundial. "As galas serviam essencialmente para conhecer pessoas - e resultou. Um dos congressistas convidou-me a passar o dia na Hill com o staff dele."
Certa noite, numa tertúlia com os seus novos amigos, conheceu Alan Simpson e Erskine Bowles, dois veteranos da politica norte-americana que tinham acabado de sair "da Casa Branca onde briefaram o Presidente".
Mas as aventuras não ficaram por aqui. Mais uma vez a sorte e a facilidade em fazer amigos colocaram-no a bordo do comboio privado de um milionário, dono de uma das mais famosas marcas de tequila do mundo. Atravessou os Estados Unidos, recebeu vários convites, alguns bem tentadores, mas declinou sempre respondendo "tenho uma filha de oito anos em Portugal que precisa de mim".
Hoje, a filha já tem 14 anos e, entretanto, já nasceu a segunda que tem agora 10 meses. Já passaram vários anos, mas a maior lição diz, jamais esquecerá, "grande parte do sucesso é aparecer, é metermo-nos no avião, no autocarro e ir! Se rebobinarmos até ao início, esta história começa comigo a comprar um bilhete de avião às quatro da manhã e a decidir que não vou desperdiçar a oportunidade! É importante estar na hora H, no momento certo e quando a oportunidade aparece é preciso estar "fired up e ready to go"!"
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