O público e os transportes de Jerusalém
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Alguém me disse por estes dias que o que aconteceu a sete de outubro fez dos israelitas pessoas mais solidárias.
Nunca os achei simpáticos. Não são pessoas de pararem o que estão a fazer para te ajudar. Não sorriem quando são abordados. São educados e pronto, e nem sempre.
Acabada de chegar a uma terra que bem podia ser Tóquio para quem, sobretudo, não lê hebraico, nem conhece o alfabeto, o primeiro embate é a desorientação.
"Já escurece e eu aqui sem saber se é para cima ou para baixo? E se é perigoso? E se apanho um taxi? Mas é melhor israeltia ou palestiniano? E como os distingo a esta hora? A pé? Nem pensar que ainda fico mais perdida..."
Estava nisto, algures em Jerusalém Oriental, a tentar voltar para a rua de Jafa onde estou a viver, na parte Ocidental, quando uma mulher já velha, com um saco de compras com rodas e dois de asas nos braços, me faz sinal, a chamar.
Também ela sem saber uma vírgula da minha língua ou de outra que patilhássemos, falou com umas seis ou sete pessoas que iam passando, mas depressa seguiam.
Depois de muitos sorrisos, apelos e esbracejar, lá me enfiou no autocarro 33 (finalmente algum símbolo inteligível).
Depressa percebi que o miúdo enfezado, de caracolinhos laterais, que me seguiu estava incumbido de me levar ao meu destino.
Por mais que tentasse explicar, com gestos, que não era preciso, lá me fazia sinal para sair "aqui", comprar um passe "ali" e apanhar agora o comboio do "outro lado".
Claro que cheguei sã e salva ao hotel, mas mais importante, com um curso completo sobre o funcionamento dos transportes públicos de Jerusalém.
