"Estou aqui para te levar para casa" ou "estás num lugar seguro" são duas das frases sugeridas no manual preparado para os soldados que vão acolher as crianças e as mulheres libertadas pelo Hamas.
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Os militares israelitas estão a ser preparados para receber as crianças e as mulheres que têm estado reféns do Hamas, na Faixa de Gaza, e que muito provavelmente estão traumatizadas. Especialistas em abuso infantil fazem parte deste esforço ao criarem um manual que explica o que pode ser oferecido ou quais as primeiras palavras que devem ser dirigidas aos menores.
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"Estou aqui para te levar para casa" ou "estás num lugar seguro" são duas das frases sugeridas no manual preparado para os soldados que vão acolher as crianças e mulheres libertadas pelo Hamas.
A France Press, que teve acesso a este manual, adianta que os soldados são aconselhados a apresentarem-se de forma educada e a darem garantias tranquilizadoras. Na lista daquilo que deve ficar por dizer, os especialistas desaconselham perguntas sobre o que possa ter acontecido aos familiares, já que muitos morreram.
No que diz respeito à abordagem à pergunta das crianças, a resposta deve ser: "O meu trabalho é levar-te para um lugar seguro, onde pessoas que conheces estão à tua espera e vão responder às tuas questões."
Os militares são ainda encorajados a descobrir e a levarem os alimentos favoritos dos menores. Se esta missão não for bem sucedida, devem levar produtos básicos como pão, queijo ou fruta.
Criado por especialistas em abuso infantil do Instituto Haruv, em Jerusalém, a pedido do Governo de Israel, o manual teve por base as experiências de vítimas do grupo Boko Haram, na Nigéria, também elas raptadas.
Os especialistas ouvidos pela France Press sublinham igualmente que é preciso fazer de tudo para não causar traumas adicionais, até porque há várias incógnitas: por exemplo, não se sabe se as crianças e os pais vão ser libertados em conjunto ou separadamente, nem se sabe se as mulheres foram vítimas de violência sexual.
Ainda assim, adivinha-se um longo caminho de recuperação para estes reféns.
Das mais de 240 pessoas que o Hamas raptou durante o seu ataque brutal em solo israelita em 7 de outubro, quatro mulheres já foram libertadas por "razões humanitárias", segundo o grupo palestiniano. Um soldado foi resgatado pelo Exército israelita.
Os corpos de duas mulheres sequestradas, de um soldado de 19 anos e de uma mulher de 65 anos foram encontrados na Faixa de Gaza.
A 7 de outubro, combatentes do Movimento de Resistência Islâmica (Hamas) - desde 2007 no poder na Faixa de Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel - realizaram em território israelita um ataque de dimensões sem precedentes desde a criação do Estado de Israel, em 1948, fazendo 1200 mortos, na maioria civis, e cerca de cinco mil feridos.
Em retaliação, Israel declarou uma guerra para "erradicar" o Hamas, que começou por cortes ao abastecimento de comida, água, eletricidade e combustível na Faixa de Gaza e bombardeamentos diários, seguidos de uma ofensiva terrestre que cercou a cidade de Gaza.
A guerra entre Israel e o Hamas, que hoje entrou no 48.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora naquele enclave palestiniano pobre cerca de 15 mil mortos, na maioria civis, e 33 mil feridos, de acordo com o mais recente balanço das autoridades locais, e 1,7 milhões de deslocados, segundo a ONU.