"O que nos contam é horrível." Português pede ajuda para retirar familiares de Gaza, a maioria crianças
Sem comida, sem água e sem condições de higiene básicas, o sogro, cunhados e sobrinhos de João Tomás Bossa tentam sobreviver em Rafah.
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João Tomás Bossa tem 21 familiares em Rafah, na Faixa de Gaza. Em “desespero”, o cidadão português a residir no Luxemburgo, casado com Wafaa Abo Zarifa, de nacionalidade palestiniana e luxemburguesa, lança este domingo um apelo para tentar salvá-los.
A maioria são crianças, conta João Tomás Bossa à TSF, incluindo “um bebé com menos de um ano”, que estão a viver em tendas na cidade palestina situada no sul da Faixa de Gaza.
A comunicação é difícil e envolve riscos, mas os familiares do português mantêm-se em contacto, relatando o terror que têm vivido.
"O que nos contam é horrível. Eles passam fome, não têm comida, não têm acesso a água... É muito complicado. E até condições de higiene básicas é demasiado complicado. Eles estão muito cansados."
“Como ser humano, envergonha-me que isto esteja a acontecer”, lamenta João Tomás Bossa, contando que por vezes é a própria família em Gaza que acaba por tentar tranquilizar quem está longe.
“Muitas das vezes até são eles que nos dizem a nós para não nos preocuparmos. Para não estarmos chateados. São eles que nos confortam, mais do que nós os confortamos a eles. E isso diz muito da força que estas pessoas têm. São apenas um exemplo de pessoas que estão a sofrer, mas têm uma grande honra e uma grande dignidade”.
O Egito e Israel apenas permitiram a retirada de uma pessoa da família de João Tomás Bossa, sendo apenas elegível a mãe ou pai da sua mulher. A sogra saiu do país, mas a saída do sogro, de 70 anos e com problemas de saúde, foi recusada.
“Portugal a emitiu os documentos necessários e fez os esforços necessários para salvar o meu sogro e sem razão absolutamente nenhuma, sem contexto absolutamente nenhum, o meu sogro foi rejeitado.”
“As únicas explicações que conseguiu obter, de forma informal, foi que da lista inicial que Portugal forneceu Israel para averiguar se as pessoas podiam ou não ser salvas, o objetivo foi cortar os casais”, isto é, “quando existia na lista duas pessoas com o mesmo sobrenome ou com o mesmo apelido, o objetivo foi cortar ao meio e uma delas poderia sair e a outra não poderia sair”.
João Tomás Bossa pediu também ajuda às autoridades do Luxemburgo, mas disseram-lhe que seria impossível agir uma vez não têm representação diplomática na região.
A TSF tentou esclarecimentos junto do ministério dos Negócios Estrangeiros, mas até ao momento não obteve resposta.