"Quantas mães precisam de segurar o bebé nos braços enquanto bombas caem por toda a parte? Quantos pais precisam de segurar os seus filhos e fazê-los rir, quando o fogo explode em todos os lugares? Quantos? Quantas? E essa é a realidade."
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Cristian Reynder é o coordenador da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) para o Noroeste da Síria. Num depoimento que chegou à TSF e que pode ouvir n"O Estado do Sítio , dá-nos conta dos relatos que foi recebendo ao longo dos últimos dois dias de Idlib:
"Quantas mães precisam de segurar o bebé nos braços enquanto bombas caem por toda a parte? Quantos pais precisam de segurar os seus filhos e fazê-los rir, quando o fogo explode em todos os lugares? Quantos? Quantas? E essa é a realidade".
Reynder pede que imaginemos o seguinte: "Você é um médico, o seu hospital já não está equipado, não está em boas condições. E agora de repente tem dezenas de pessoas feridas, a sangrar com membros a cair, pernas amputadas, braços amputados. E precisa de salvá-las, às vezes sem anestesia. E está a responder a isso sabendo que talvez a próxima bomba seja para si enquanto estiver a cumprir o seu dever como médico. Foi o que aconteceu".
O dirigente, cuja localização não é revelada por razões de segurança, cruza a situação humanitária com a missão dos MSF:
"Hoje temos três milhões de pessoas presas e não há lugar para estar seguro. Portanto, há um nível de desespero da população, sentindo-se completamente abandonada. É maior que todos nós. É maior. Quero dizer, numa crise humanitária, sabemos como responder como organização, não importa quão grande seja a crise. Nós sabemos. E este é o nosso trabalho, o nosso propósito. E nós estamos a fazer isso; para os hospitais, estamos a dar-lhes tudo o que podemos. Isso não é um problema: materiais, equipamentos, primeiros socorros, materiais cirúrgicos. Tudo o que temos, estamos a dar. Mas o que podemos fazer quando os hospitais estão a ser bombardeados? O que podemos fazer? Apenas assistir como espetadores? Estamos diante de uma crise humana, uma crise da humanidade. O problema é que nesta situação, somos impotentes."
Reynder recorda que os países assinaram uma convenção para evitar especificamente este tipo de situação, para proteger "a estrutura médica que representa os hospitais, proteger a vida humana, responsabilizar quem comete atrocidades. Onde estão essas instituições? Nós somos impotentes. A única coisa que podemos fazer é gritar com os pulmões e tentar mobilizar aqueles que têm essa responsabilidade".
E eles, os que mandam, têm uma enorme responsabilidade nas suas mãos, que é preservar a vida humana: "Nas últimas três, quatro semanas, fizemos um total de cinco doações de equipamentos médicos, cirúrgicos, equipamentos de primeiros socorros e materiais. Estamos a preparar uma doação adicional para que eles possam lidar com essa situação, para apoiar basicamente os médicos no desempenho das suas tarefas. É isso que temos feito e continuamos a fazer. Mas o que podemos nós fazer quando a bomba cai no hospital? Essa é a realidade hoje em Idlib."