Investigadora do ISCTE afirma que o acordo negociado por Theresa May é - ironicamente - a melhor solução.
Corpo do artigo
O parlamento britânico aprovou esta quarta-feira a alteração da data do Brexit, que acontecerá a 22 de maio - caso o Acordo de Saída seja aprovado - ou a 12 de abril, caso o mesmo seja rejeitado. Nas restantes votações da noite, os deputados não aprovaram qualquer das alternativas propostas ao acordo conseguido por Theresa May.
Perante esta situação, impõe-se questionar o que querem os deputados britânicos. A investigadora do Centro de Estudos Internacionais do ISCTE, Ana Isabel Xavier, diz que perante as votações desta noite, ficamos sem saber o que quer realmente a Câmara dos Comuns.
"É a pergunta para um milhão de euros. A verdade é que houve consenso em relação a uma questão: a data do Brexit não será 29 de março, mas sim 12 de abril ou 22 de maio, se o Acordo de Saída for aprovado. No fundo, a única aprovação que vimos esta noite foi a de uma deliberação de Bruxelas, do Conselho Europeu de 21 de março. Para tudo o resto, só maiorias negativas. Já tínhamos percebido, há cerca de uma semana, o que é que a Câmara dos Comuns não queria: o acordo de Theresa May e um novo referendo", recorda a investigadora.
Com as restantes votações da noite "ficámos a perceber que continuam a não querer um segundo referendo, também não querem uma saída sem acordo, também não querem uma renegociação e também não querem uma revogação do artigo 50. Neste momento, em bom rigor, a soma das partes é uma soma de maiorias negativas em que nem sabemos o que é que a Câmara dos Comuns quer para determinar a saída e, muito menos, o que quer para determinar a relação futura".
À TSF, Ana Isabel Xavier lembra a decisão de Theresa May - que já disse que se afasta caso o acordo que a própria negociou seja aprovado - e assinala que esta é, ironicamente, a solução mais viável.
TSF\audio\2019\03\noticias\28\ana_isabel_xavier_2_acordo_de_theres
"Há partidos - desde logo o DUP - que já vieram dizer que não apoiam o acordo, mesmo com esta eventual saída de Theresa May. Seja como for, é muito claro que, neste momento, o acordo Theresa May - ironicamente - continua a ser o único acordo possível. Até é bem provável que o acordo venha a ser aceite - mesmo que por uma vantagem tangencial - e considerado como o mínimo denominador comum", relembra a investigadora.
Por estes fatores, "não deixa de ser irónico que, no final do dia, o acordo que todos recusados e contra o qual todos estavam, possa vir a ser desbloqueado numa terceira votação - para isso é preciso a aprovação do speaker - e que, mesmo que não exista qualquer tipo de alteração substancial ao acordo - nunca existiria, visto não haver abertura de Bruxelas para isso - possa vir a ser aprovado por uma margem muito mínimo no sentido de, pelo menos, o Reino Unido sair com algo que possa vir a traçar as negociações do início do período de transição, ou seja, da relação futura entre o Reino Unido e a União Europeia".