Devin Nunes sentiu-se ameaçado por uma vaca fictícia e a internet retaliou. É o chamado efeito Streisand. O juiz português Neto de Moura também já o sentiu.
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O congressista norte-americano Devin Nunes e o juiz Neto de Moura foram vítimas do efeito Streisand.
Ambos querem ver a Justiça condenar os seus ofensores: o primeiro processou o Twitter por causa de duas contas satíricas, o segundo levantou um processo contra deputados, humoristas e comentadores que o ofenderam. E em resposta receberam... o dobro das piadas.
O lusodescendente Devin Nunes, representante do 22.º distrito da Califórnia pelo Partido Republicano, processou esta semana o Twitter em 250 milhões de dólares por causa das contas Devin Nunes' Cow e Devian Nunes' Mom, que considera distribuidoras de conteúdo "claramente abusivo, de ódio e difamatório".
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Ambas têm conteúdos semelhantes, são casa de textos humorísticos e memes relacionados com Devin Nunes. Nem sequer eram muito conhecidas até ao anúncio do processo.
Ao tentar "apagar" as duas páginas satíricas, o republicano acabou por fazer com que estas se tornassem faladas em todo o mundo através da imprensa e redes sociais.
O resultado? A conta DevinCow passou dos 1200 seguidores que tinha até segunda-feira para os 567 mil, superando o número de seguidores do próprio Devin Nunes, 397 mil. E agora uma outra página até já vende t-shirts.
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É o chamado Streisand effect (efeito Streisand), uma regra não escrita no mundo da internet: a tentativa de censurar ou remover algum tipo de informação vai acabar por se virar contra o próprio censor.
O nome surge inspirado no que aconteceu a Barbra Streisand em 2003. A cantora processou o fotógrafo Kenneth Adelman e o site Pictopia.com em 50 milhões de dólares por temer que uma fotografia aérea da sua mansão na costa da Califórnia se tornasse pública.
Se não o tivesse feito, talvez a imagem passasse despercebida numa coleção com mais de 12.000 fotos. Em vez disso foi amplamente divulgada entre os internautas e mais de 420 mil pessoas visitaram o site no mês que se seguiu ao processo judicial.
Com o juiz Neto de Moura aconteceu algo semelhante depois do processo contra humoristas e comentadores que condenaram os acórdãos polémicos relativos a violência contra mulheres.
Se o assunto já não estava na ordem do dia, voltou a estar; se havia alguém que ainda não tivesse abordado o caso no seu espaço de comentário, programa de humor ou redes sociais, fê-lo na semana que se seguiu. E mesmo os que que já o tinham feito, voltaram a falar sobre Neto de Moura e foram ainda mais cáusticos.
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Foi como lançar um desafio aos inimigos - "atrevam-se a criticar-me" - que todos, e ainda mais alguns, aceitaram. Muitos humoristas que não foram visados pelo processo disseram-se até indignados, como se não estivessem a fazer bem o seu trabalho.
Enquanto Bruno Nogueira e João Quadros responderam a Neto de Moura no Tubo de Ensaio da TSF, Ricardo Araújo Pereira foi mais longe do que os 'colegas de profissão': criou um jogo online em que o juiz tem de evitar ser atingido por dejetos.
Depois de o jogo Salva o Neto ter sido exibido no programa da TVI Gente que Não Sabe Estar no dia 3 de março, os portugueses voltaram a pesquisar "Neto de Moura" no Google. Muito mais do que tinham feito nos meses anteriores.
Por se considerar "enxovalhado", o juiz tenciona levar à Justiça pelo menos oito pessoas por "ofensas pessoais e profissionais" e pedir indemnizações entre 10 mil e 100 mil euros.
São visados Ricardo Araújo Pereira, Bruno Nogueira, João Quadros, Diogo Batáguas, Mariana Mortágua, Catarina Martins, Joana Amaral Dias e Manuel Rodrigues.
Já Devin Nunes acusa diretamente o Twitter por "permitir que a sua plataforma sirva como um portal de difamação" para minar a confiança pública no congressista e "beneficiar os seus oponentes e oponentes do Partido Republicano", além dos anónimos responsáveis pelas contas.
O processo já foi entregue no tribunal estadual do condado de Henrico, na Virgínia. Será "o primeiro de muitos", disse Nunes em entrevista à Fox News.