Estavam no local errado à hora errada, mas alguns segundos podem ter feito a diferença. No meio da tragédia há sempre histórias de esperança e sobrevivência. Algumas começam agora a ser conhecidas.
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Estava a um quarteirão do local onde rebentou a bomba na maratona de Boston. Estava em Paris, aquando dos atentados de novembro, e agora em Bruxelas. Mason Wells ficou ferido, mas sobreviveu ao terceiro atentado terrorista por que passou. Numa entrevista divulgada pela BBC os pais do jovem de 19 anos contam que "este é o terceiro atentado terrorista dele, infelizmente é a terceira vez que a nossa família tem contacto com um atentado à bomba".
Mason, que é Mormon, estava no aeroporto de Bruxelas com outros dois missionários. Ele foi atingido por estilhaços das explosões e sofreu uma ruptura do tendão de Aquiles, bem como queimaduras de segundo e terceiro grau na cara, mãos e cabeça. Os outros dois missionários também ficaram feridos.
Os pais de Mason conseguiram falar com o filho depois do atentado, pelo telefone, "ele estava muito calmo", contou a mãe, Kimberly. O pai, Chad, prometeu apanhar o próximo avião que possa para Paris para poder visitar o filho.
Uma brincadeira que correu muito bem
Adelma Tapia Ruiz tinha 37 anos e vivia há nove anos na Bélgica com o marido Cristopher Delcambe. Esta terça-feira Adelma ia viajar para Nova Iorque com as filhas, gémeas, de três anos. Cristopher foi levá-las ao aeroporto, ele ia ficar em Bruxelas.
Momentos antes das duas explosões as duas crianças saíram da zona do check in para brincar e o pai foi atrás delas, conta o jornal Daily Mail. Esse ato terá salvado a vida aos três. Uma das gémeas ficou ferida, num braço, e Cristopher também sofreu alguns ferimentos. Já a mãe, Adelma, que ficou na zona do check in, foi a primeira vítima mortal cuja identidade foi confirmada.
A "mulher do casaco amarelo"
Foi uma das primeiras imagens, e seguramente uma das mais fortes, que começou a correr mundo como símbolo que acabava de acontecer em Bruxelas. Uma mulher, ferida, um pé descalço, um casaco amarelo rasgado que deixava ver um soutien preto. A mulher está sentada meia de lado no banco do aeroporto, com ar desesperado.
Ketevan Kardava, uma fotojornalista georgiana, é a autora da icónica fotografia. Ketevan é correspondente especial da Emissora Nacional da Geórgia e estava a caminho de Genebra, para acompanhar um encontro entre representantes da Rússia e da Geórgia.
Sobre o momento da primeira, de duas, explosão no aeroporto, disse à revista Time que "portas e janelas voaram" (...) "tudo era poeira e fumo. Tinha dezenas de pessoas ao meu lado sem pernas, deitadas em sangue". A jornalista contou que o primeiro instinto que teve foi olhar para baixo: "nem acreditava que ainda tinha as minhas pernas. Estava em estado de choque". Mesmo assim, começou a fotografar, "enquanto jornalista era meu dever tirar estas fotografias."
Sobre a mulher da fotografia, com o casaco amarelo, Ketevan diz que "estava em choque, sem palavras" (...) "não chorava. Olhava apenas em volta, com medo". A própria jornalista confessou que "queria correr para um lugar seguro (...) mas também queria tirar fotografias." E tirou. Depois da mulher do casaco, voltou-se para fotografar outra vítima, o jogador de basquetebol Sebastien Bellin. A seguir teve de abandonar o aeroporto "deixei-os e fui para um lugar seguro" acrescentou, "espero que eles estejam bem. Espero, sinceramente, que ultrapassem todas estas dificuldades".
Bellin, o internacional belga que esteve uma hora ferido no chão
O segundo ferido do atentado que a objetiva da câmara de Ketevan Kardava captou é um jogador profissional de basquetebol, internacional pela seleção belga, que jogava na equipa Gent Hawks. Sebastien Bellin, que tem dupla nacionalidade (belga e brasileira), deitado no chão, com as pernas ensaguentadas, foi outra das imagens que mais marcou o dia dos atentados na capital belga. Na altura encontrava-se perto da zona do check-in e sofreu ferimentos graves nas pernas. O pai, James Bellin, contou à CNN que o filho "esteve deitado cerca de uma hora no chão no aeroporto de Bruxelas e perdeu muito sangue."
James revelou que Sebatien foi operado ontem, e que será novamente sujeito a intervenção cirúrgica nos próximos dias. Sobre a conversa que teve com o filho disse que o jogador de basquetebol desabafou: "não imaginas o massacre que vi à minha volta."