Tornou-se bibliotecário... para roubar milhares de livros. Agora, a vida dele vai dar um filme

Laéssio Rodrigues de Oliveira
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Laéssio de Oliveira tirou o curso de bibliotecário para poder passar boa parte da vida a roubar livros, revistas, gravuras. Agora, reformou-se.
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Não é habitual fazer-se um documentário sobre um "rato de biblioteca". Um filme de ficção baseado na história de um deles, muito menos. A vida dos "ratos de biblioteca" não é, à partida, emocionante o suficiente para justificar chegar aos ecrãs de cinema.
Mas Laéssio Rodrigues de Oliveira não é um "rato de biblioteca" qualquer. Tirou, na juventude, um curso de biblioteconomia. Hoje, com 45 anos, conhece a maioria dos grandes espaços de leitura do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Quando tirou o tal curso de biblioteconomia não tinha por intenção ser bibliotecário - queria apenas pensar como eles, circular entre eles. Sucede que a sua principal motivação nas bibliotecas sempre foi... roubar livros.
Foram 60 mil itens roubados ao longo de anos, de gravuras a revistas do século XIX (a sua predileção), passando por livros, dos mais leves aos mais pesados, dos clássicos aos contemporâneos.
Roubou, no início, à descarada. Levava malas enormes de viagem, dizia que estava em trânsito para a rodoviária e saía de lá com elas cheias. Aos poucos, refinou o esquema e passou a transportar o produto do roubo em mochilas e dentro das calças, das camisas, usando as casas de banho para acomodar tudo o que precisava antes de sair.
Da biblioteca da Universidade de São Paulo deve ter desviado, pelas suas contas, uns 10 mil itens que atirava pela janela e ia buscar depois. Gaba-se de ter furtado 3.000 gravuras e 28 livros do Museu Nacional do Rio - afinal, diz ele, se não os tivesse furtado, teriam acabado em cinzas no incêndio que houve no local, há uns meses.
Laéssio, que foi preso cinco vezes mas hoje vive em liberdade, já se retirou. Não por remorso, nem pensar! Muito menos por medo de ser apanhado. "Simplesmente", diz ele, "já não sinto adrenalina, excitação". Agora, é tempo de se reformar. E de ler. Muito.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da TSF a crónica Acontece no Brasil.