A União Europeia analisa, esta quarta-feira, um novo adiamento do Brexit, tendo em cima da mesa a proposta de Donald Tusk para uma "extensão flexível" da data da saída.
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A proposta oficializada esta terça-feira, na carta convite que tradicionalmente envia aos lideres europeus para os convocar para as reuniões magnas em Bruxelas, contextualiza os motivos pelos quais a União Europeia deverá rejeitar a "curta extensão" solicitada pelo Reino Unido.
"A nossa experiência até agora, bem como as profundas divisões dentro da Câmara dos Comuns, não nos dão motivos para acreditar que o processo de ratificação possa ser concluído até o final de junho", afirma o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, numa referência à persistente indecisão do Reino Unido.
Num tom que pode ser lido como uma crítica à "incerteza" em que os defensores do Brexit lançaram a União Europeia, Tusk afirma que a concessão e uma extensão do prazo, até 30 de junho, "aumentaria o risco de uma série contínua de adiamentos curtos" e de "cimeiras de emergência". As novas datas do Brexit não seriam mais do que "novos precipícios".
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Para evitar o cenário que, do ponto de vista de Donald Tusk, "ofuscaria os assuntos da União Europeia a 27 nos próximos meses", o presidente do Conselho Europeu propõe uma extensão longa - flexível - pelo período estritamente necessário, que pode estender-se até um ano.
Na carta convite, Tusk afirma que uma tal flexibilidade permite a Londres encerrar a extensão automaticamente, assim que tiver ratificado o Acordo de Retirada. O Reino Unido ficaria assim livre para sair quando estivesse pronto. E a UE27 evitaria repetidas cimeiras do Brexit.
Por outro lado, "a extensão mais longa permitiria ao Reino Unido repensar a estratégia", incluindo pôr travão ao Brexit, como sugere o próprio Donald Tusk. Ou seja, "em qualquer caso, o Reino Unido pode revogar o artigo 50 a qualquer momento, conforme declarado pelo Tribunal de Justiça Europeu".
Mas no bloco europeu são conhecidas inúmeras críticas à forma como o governo britânico tem conduzido o dossier. Muitos já começam a dar sinais de impaciência e exigem à primeira-ministra britânica que chegue a Bruxelas com um plano detalhado para as razões de um novo pedido de adiamento e sobre que perfil de Estado-Membro pretende adotar durante a extensão.
Sem esse plano, a unanimidade no Conselho Europeu pode estar em causa e o fantasma de uma saída sem acordo continua a pairar sobre o Brexit.
Na carta não faltam recados em várias direções, incluindo dirigidos aos Estados-Membros mais intransigentes, como o francês, que exige explicações.
"Seria realmente importante que este pedido de extensão tenha saído de um plano político credível, que explique o que acontecerá, durante a extensão solicitada", salientou a ministra francesa dos Assuntos Europeus, Amélie de Montchalin.
Numa resposta indireta à ameaça feita pelo deputado conservador Jacob Rees-Mogg, - que, ainda na semana passada, sugeriu que Londres minasse a União por dentro, durante um tal período de extensão longo -, a governante francesa exige ao Reino Unido que clarifique qual o papel que "quer desempenhar na União Europeia durante o prazo de extensão". "Como quer decidir e em que tipo de decisões deseja ter um papel", exemplificou.
Mas Donald Tusk avisa que se não houver acordo relativo à próxima extensão do prazo, "haverá o risco de um Brexit acidental".
Na última operação de charme antes da cimeira, Theresa May deslocou-se a Berlim para se encontrar com a chanceler alemã. Angela Merkel mostrou-se favorável à extensão, embora também tenha rejeitado o período curto, considerando que deve ser dado mais tempo, mesmo que acredite que "talvez não seja preciso um ano".
O governo português também manifestou, esta semana, o seu entendimento sobre o alargamento do prazo para que o Reino Unido deixe a União Europeia. Numa reunião no Luxemburgo, o ministro dos Negócios Estrangeiros afirmou que "se o Reino Unido quiser uma extensão do prazo que vá além da data das próximas eleições europeias, o Reino Unido tem de realizar eleições europeias - mas pensamos que não devemos acrescentar a essas condições outras condições demasiado penalizadoras da posição britânica".