Michael Cohen vai acusar Trump de conduta criminal e possível fraude fiscal. O antigo advogado de Donald Trump vai estar hoje perante o comité de supervisão do Congresso para falar do Presidente.
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É um testemunho que pode manchar ainda mais a imagem de Donald Trump como Presidente dos Estados Unidos. Antes de dar entrada na prisão, onde a partir de maio vai cumprir uma pena de três anos, o antigo advogado do chefe de Estado quer repor a verdade. Michael Cohen foi condenado por mentir ao Congresso mas desta vez leva vários documentos para provar que o que está a dizer é verdade.
A declaração inicial do advogado já é conhecida: vai dizer aos congressistas que Trump é um racista, vigarista e mentiroso.
Cohen quer que o país saiba que quando mentiu ao Congresso foram os outros advogados do Presidente que reviram e editaram as declarações. Confessa que Trump nunca lhe disse, palavra por palavra, para mentir, mas todas as conversas que mantiveram apontavam nesse sentido. O advogado diz que prestou falso testemunho para proteger o Presidente.
Comecemos então pelo caso de Stormy Daniels, a estrela porno, a quem Trump pagou para não falar de um alegado envolvimento. O advogado vai dizer que o então candidato às presidenciais esteve diretamente envolvido nos esforços para esconder o suposto caso, semanas antes das eleições de 2016. O Presidente nega ter-se envolvido com Daniels ou ter ordenado qualquer pagamento. Cohen vai apresentar como prova a transferência de 130 mil dólares que fez para o advogado de Daniels e cópias dos cheques pessoais que Trump lhe passou, como Presidente, para pagar esse dinheiro.
Outra das suspeitas que recai sobre Donald Trump é a de que sabia que o conselheiro e amigo, Roger Stone, estava envolvido com a Wikileaks. Cohen vai garantir ao Congresso que ouviu uma conversa entre Trump e Stone em que este revelou ter falado com Julian Assange e que sabia quem em breve seriam divulgados e-mails prejudiciais para Hillary Clinton. O então candidato republicano terá afirmado que isso era muito bom.
Nesta audição pública perante o comité de supervisão, o antigo braço direito de Trump vai apresentar documentos financeiros que, segundo ele, mostram possíveis fraudes fiscais. São as declarações de rendimentos de 2011 a 2013 que o advogado espera que provem que o Presidente pinta a realidade de acordo com os seus interesses: se quer estar entre os mais ricos dos Estados Unidos, inflaciona o dinheiro que tem; quando quer pagar menos impostos, reduz o valor dos lucros. Estes documentos podem levar o congresso a insistir nos pedidos para que as declarações de impostos de Trump sejam divulgadas.
Cohen vai voltar a falar do projeto para a construção de uma Trump Tower em Moscovo, assegurando que as negociações para que o negócio se concretizasse se prolongaram durante a campanha. Quanto a um possível conluio com a Rússia para influenciar as presidenciais de 2016, o advogado admite que não tem provas mas algumas suspeitas. Por volta de junho de 2016, estava com Trump quando Donald Jr. entrou no gabinete. Aproximou-se do pai e disse-lhe baixinho: "A reunião está combinada". Quando em 2017 a história da reunião entre a campanha do candidato e uma advogada russa foi tornada pública, Cohen lembrou-se daquele momento. Lembrou-se também que Trump sempre lhe disse que o filho tomava péssimas decisões e por isso não podia agir sozinho em nada que fosse importante. Para ele tornara-se claro que Trump sabia do encontro, que serviria para revelar alguns dados incriminatórios sobre Hillary Clinton.
No testemunho, daqui a algumas horas Cohen, vai definir Trump como alguém difícil e enigmático, que desde que assumiu funções tem mostrado a pior versão dele próprio. O advogado garante que Trump se candidatou para aumentar o prestígio da marca de negócios e não para ser Presidente. Que nunca teve o desejo de melhorar e liderar o país, mas sim promover-se e aumentar a conta bancária. Segundo Cohen, Donald Trump dizia muitas vezes que a campanha era o melhor anúncio de sempre para os negócios que tinha.
Ao longo das 20 páginas das declarações iniciais, Michael Cohen vai contar ainda as inúmeras declarações racistas que ouviu Trump proferir, a forma como mentiu para escapar à guerra do Vietname e como ameaçou antigos colegas para nunca revelarem as notas que teve nos exames.