O triunfo dos cowboys de Almodóvar
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Um triunfo dos memoráveis numa sessão caótica. Foi o que aconteceu com Pedro Almodóvar ontem na projeção fora de competição da sua curta, Strange Way of Life, que em português depois será Estranha Forma de Vida, inspirado no fado que Amália cantou e que aqui tem versão suave e bela de Caetano. Triunfo porque os aplausos foram sentidos e emocionados, mas também porque é um compêndio das maneiras e modos do próprio cinema de Almodóvar, aqui ajudado pelo carisma de atores como Ethan Hawke e o omnipresente Pedro Pascal. Caos porque a organização do festival não previa chuvada e um overbooking que fez com que centenas de jornalistas se empurrassem à entrada da sala do Debussy, já para não falar que muitos ficaram de fora. E claro, choveram protestos.
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Este western gay sobre dois veteranos pistoleiros que se reencontram duas décadas depois tem também a presença de José Condessa, ator português que encarna a juventude do cowboy de Pedro Pascal.
Mas esta cowboiada não foi a única celebração cinéfila em Cannes: o japonês Kore-eda regressou à competição com Monster, relato de um cancelamento de um professor que poderá ter agredido um aluno numa escola primária. O cineasta que já venceu a Palma de Ouro por Shoplifters também aborda as questões do bullying e da sexualidade infantil. Dir-se-ia que é um filme deliciosamente incómodo, tal como Le Retour, de Catherine Corisini, outro filme a escamar uma relação homessexual, neste caso entre duas adolescentes numas férias de verão na Córsega. Le Retour é o tal filme que teve de tirar da montagem final uma cena de sexo entre menores. O escândalo é sempre bem-vindo à Croisette.
