Obrador é um cientista político e escritor que, à terceira tentativa, foi eleito Presidente do México. Acabou de fazer 65 anos, mas não quer reformar-se já. A posse vai ter lugar este sábado. Ivanka Trump vai lá estar. António Costa também.
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Andrés Manuel López Obrador nasceu em Tepetitán, na região de Tabasco, a 13 de novembro de 1953. Também conhecido como AMLO, é casado com Rocío Beltrán Medina, 26 anos mais nova.
Obrador foi chefe de governo do Distrito Federal mexicano até meados de 2005, quando renunciou ao cargo para iniciar a sua campanha com vista a alcançar a presidência do México nas eleições de julho de 2006. Portanto, chegar à presidência é um sonho antigo. Na altura foi derrotado por Felipe Calderón, do Partido da Ação Nacional, por apenas meio ponto percentual. Obrador não aceitou a derrota, autoproclamou-se Presidente do México no dia 20 de novembro desse mesmo ano, Dia da Revolução Mexicana, construindo assim um governo paralelo ao de Calderón.
Foi um protesto organizado contra as supostas fraudes do processo eleitoral. Uma hipótese que, mais de 12 anos depois, ainda está sob investigação.
Em 2012 voltou a perder.
Em julho deste ano foi eleito à primeira volta com mais de 53% dos votos, contra Ricardo Anaya e José António Meade. O Morena, Movimento de Regeneração Nacional liderado por Obrador, conquistou também a maioria dos lugares na Câmara dos Deputados e no Senado. É a vitória da esquerda em contracorrente num continente que, nos últimos anos, virou à direita nos Estados Unidos, Argentina, Brasil e Colômbia, para falar apenas nos grandes países.
No discurso da vitória, há cinco meses, propôs liberdade: de imprensa, de associação, de crenças, empresarial, liberdade sexual num continente que regressa a valores mais conservadores, menos progressistas. Prometeu mais Estado para defender os mais pobres, os mais humildes e esquecidos e especialmente as populações indígenas.
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Mas também garantiu a independência ao Banco Nacional do México, renunciou às expropriações e prometeu honrar os compromissos do Governo anterior com empresas nacionais e estrangeiras, o que não deixa de ser importante, uma vez que estamos a falar da 15ª maior economia do mundo.
Quer "desterrar a corrupção" e isso é assumido por Obrador como a grande prioridade para diminuir a violência no país, sempre muito associada ao tráfico de droga. Há alguma expectativa em saber como funcionará - e por quanto tempo - o comando único que anunciou e que se reunirá todos os dias às seis da manhã - juntando as chefias de todas as forças de segurança para coordenar as ações do dia. Prometeu ainda melhorar as cadeias e a reinserção social dos reclusos.
Quer uma relação cooperante com os EUA baseada no respeito mútuo e na defesa dos direitos dos migrantes mexicanos no país de Donald Trump. Mas a caravana com milhares de refugiados que se instalou nos arredores de Tijuana, para tentar atravessar a fronteira para os EUA, é um dos problemas principais que terá de enfrentar no imediato.
AMLO prometeu fortes reformas económicas no México, com base num plano de investimento público, e maior igualdade social, com a duplicação do valor das pensões de reforma, medida que soou a populismo eleitoral.
É certo que as medidas económicas são aplaudidas por uma parte importante da população, mas dizem as sondagens que mesmo quem votou nele mostra-se menos confortável com a posição perante o problema da imigração, em que Obrador parece ter uma posição muito conservadora. A esquerda mexicana compara-o mesmo a Donald Trump e recentemente apareceram cartazes a chamá-lo de "Juan Trump", quando propôs um plano de contenção de imigrantes vindos da América Central.
Neste desfiar de críticas não ajudou o elogio que lhe fez Donald Trump, dizendo que o governo mexicano se estava a comportar muito bem, ao aceitar ficar com os refugiados no seu território enquanto aguardam resposta aos pedidos de asilo - processos que podem demorar vários meses.
A resposta de AMLO a este clima de contestação na área da segurança vem do lado da economia, onde o novo Governo - que já tem uma equipa de transição a funcionar - quer fazer grandes reformas. Sobretudo na área da energia, onde o novo Presidente quer uma maior autonomia perante a hegemonia dos vizinhos do norte.
Resta saber como será essa autonomia depois de ter aceitado várias condições do governo dos EUA sobre o comércio (na senda da renegociação do acordo de comércio da América do Norte - o NAFTA) e de não ter revelado ainda posicionamento sobre algumas questões de política internacional.
Por outro lado, AMLO já deu indicações de que conta com um outro parceiro estratégico para o desenvolvimento da economia mexicana: a China, com potencial de investimento nas infraestruturas fundamentais, nomeadamente na área dos transportes.
O novo Presidente quer, assim, estender para a região do canal do Panamá o conceito de Rota da Seda, com a ferrovia leste-oeste para substituir os canais da Nicarágua e Panamá, e pretende também fazer um pacto com a direita mexicana para tentar ajudar na governabilidade do México.
Começa agora um mandato de seis anos para Obrador mostrar o que vale.