O Observatório Eleitoral apelou aos eleitores moçambicanos para a «calma e serenidade», após confrontações em algumas partes do país por suspeitas de fraude eleitoral, com o início do apuramento dos resultados das eleições gerais.
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O membro do Observatório Eleitoral, Dinis Matsolo, destacou em comunicado os relatos de violência e agitação preocupantes em várias partes do país, assinalando que a sua instituição «está a fazer esforços» para investigar os casos.
«Gostaríamos de apelar a todos os eleitores a terem calma», disse o membro daquela que é a maior organização de observação presente nas quintas eleições gerais moçambicanas
A polícia moçambicana envolveu-se hoje em confrontos com a população de Nampula, norte de Moçambique, quando tentava dispersar concentrações de pessoas junto de mesas de voto para as eleições gerais, segundo testemunhou a Lusa no local.
Em vários pontos da periferia da cidade, onde reside a maioria da população, a polícia usou balas reais e gás lacrimogénio para dispersar as pessoas que se mantinham perto das assembleias de voto, avisando-as que não podiam permanecer no local e tinham de ir para casa, havendo o risco de pelo menos um ferido.
Além da cidade de Nampula, situações semelhantes ocorreram em Angoche, na mesma província, que corresponde ao maior círculo eleitoral de Moçambique, disse à Lusa fonte local.
A polícia usou também gás lacrimogénio na cidade da Beira, onde concentrações de pessoas mantinham a recusa de abandonar os postos de votação, alegando uma tentativa de fraude eleitoral.
Imagens divulgadas pelo canal privado STV mostram um dos acessos à cidade cortado por estruturas em chamas e dezenas de pessoas gritando o nome do líder da oposição, Afonso Dhlakama.
Dinis Matsolo referiu que o Observatório Eleitoral anotou vários constrangimentos durante o processo de eleição do novo Presidente moçambicano, os 250 deputados ao parlamento e os 811 membros das assembleias provinciais.
O dia de votação em Moçambique confirmou as suspeitas levantadas de véspera pelos principais partidos de oposição de que muitos dos seus membros nas mesas de voto, previstos na lei eleitoral recentemente aprovada, não conseguiram as suas credenciais.
Ao longo do dia chegaram relatos de diversos incidentes e suspeitas de fraude, nomeadamente na Beira, onde um homem não credenciado pelas autoridades eleitorais foi preso quando tentava transportar seis urnas com boletins para um posto de votação.
Em Nampula um outro foi apanhado a tentar introduzir votos previamente preenchidos a favor do candidato presidencial da Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique, no poder) mas conseguiu fugir.
E em Tsangano, província de Tete, o boletim do Centro de Integridade Pública e a Associação dos parlamentares Europeus para África, que conta com uma rede de 150 jornalistas, revelou que membros da Renamo suspeitaram da prática do chamado "enchimento" prévio de urnas e queimaram o material eleitoral, seguindo-se confrontos com a polícia.