"Oceanos enfrentam profunda crise." Barómetro alerta que quase 1700 espécies marinhas estão ameaçadas de extinção
O estudo mostra que os oceanos estão a registar recordes de temperaturas e de subida do nível do mar, com um declínio generalizado de espécies e com importantes ecossistemas ameaçados
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Quase 1700 espécies marinhas estão ameaçadas de extinção e, em 2024, o nível global do mar atingiu o valor mais elevado já registado, alerta um novo barómetro científico sobre a saúde dos oceanos.
Os dados constam do estudo Starfish que é apresentado este domingo aos chefes de Estado e de governo que participam na Conferência dos Oceanos da ONU (UNOC3), em Nice, e que conclui que os oceanos estão em declínio, a registar recordes de temperaturas e de subida do nível do mar, com um declínio generalizado de espécies e com importantes ecossistemas ameaçados.
Segundo este primeiro barómetro global sobre a saúde dos oceanos, desenvolvido por uma equipa de especialistas de várias áreas e supervisionado pelo comité científico internacional do One Ocean Science Congress, 1677 espécies marinhas estão ameaçadas de extinção, incluindo um terço dos tubarões e das raias, e 26% dos cetáceos estão em risco.
Em declarações à TSF, Tiago Pitta e Cunha, presidente da Fundação Oceano Azul, considera que este estudo vem confirmar outras investigações que dizem que ainda não chegámos à "idade da sensatez" no que toca aos oceanos. Não espera grandes decisões da cimeira de Nice e, por isso, defende soluções mais criativas.
"É, sem dúvida, a maior reunião de chefes de Estado e do Governo que vão deliberar sobre os temas dos oceanos. A esperança continua viva que nós vamos, nos próximos anos, conseguir trazer soluções, porque os oceanos enfrentam, de facto, uma profunda crise e isso põe em causa o funcionamento do planeta e a nossa vida nele", explica à TSF Tiago Pitta e Cunha, sublinhando que, pelo que se nota da declaração das Nações Unidas, que será adotada no final da semana, "não parece que vá haver nada de extraordinariamente novo".
"Por isso é que nós gostaríamos de apoiar um grupo de países campeões do oceano, uma coligação de países que possa ser um grupo de vanguarda e que puxe pela agenda e que implemente a agenda, porque, pela declaração das Nações Unidas que está na forja e que vai ser adotada, não me parece que vá ser ela que vá puxar a carroça do oceano", frisa, argumentando que Portugal pode ser um dos campeões de uma coligação de países na defesa dos oceanos.
"Portugal tem tudo a seu favor e fez o trabalho de casa para estar presente nesta conferência. Portugal é um dos maiores países oceânicos do mundo, está na liderança através das áreas marinhas protegidas dos Açores. Além disso, Portugal também conseguiu ratificar o Tratado do Alto-Mar, que vai ser muito importante porque é a primeira vez que vamos ter leis internacionais para proteger a maior parte do planeta, uma vez que o alto-mar é mais de metade de todo o planeta terrestre. É neste sentido que Portugal tem os argumentos, a autoridade, o mérito e a legitimidade para poder ser um dos campeões dos oceanos e, com isso, tornar-se um país mais pertinente no século XXI", acrescenta.
O documento alerta ainda que o nível global do mar aumentou 23 centímetros desde 1901 e, em 2024, atingiu o nível mais elevado alguma vez registado, enquanto a temperatura dos oceanos ultrapassou, no último ano, o recorde anterior em 0,25 graus à superfície.
Quanto à pressão das atividades humanas, o Starfish salienta que todos os indicadores estão a aumentar, apontando o exemplo das emissões provenientes do transporte marítimo, que subiram 2,7%, para 600 milhões de toneladas, representando 1,6% das emissões globais.
O barómetro, que é publicado este domingo na revista State of The Planet, conclui também que a “pesca insustentável persiste a nível global”, tendo em conta que 37,7% dos `stocks´ de peixe marinho foram sobre-explorados em 2021, face aos 10% de 1974, e que, em 2022, 75% das embarcações de grande porte - com mais de 15 metros - permaneceram sem monitorização.
A produção de alimentos marinhos atingiu o recorde de 115 milhões de toneladas para fazer face à procura global, com a pesca de pequena escala a contribuir com apenas 25 milhões de toneladas, mas a gerar 88% dos empregos no setor.
Os resíduos plásticos representam mais de 80% dos detritos aquáticos, com 75 a 199 milhões de toneladas acumuladas nos rios e no oceano em 2021, realça o documento, que estima que 500 milhões de pessoas são expostas anualmente a tempestades tropicais e furacões cada vez mais recorrentes.
De acordo com o Starfish, as perdas económicas destas catástrofes naturais atingiram os 102 mil milhões de dólares em 2023 (89 mil milhões de euros), ultrapassando regularmente os 100 mil milhões de dólares por ano (87 mil milhões de euros) e aumentando 25% a cada década.
Os investigadores salientam ainda que as áreas marinhas protegidas cobrem agora 8,34% do oceano, mas uma em cada quatro existe “apenas no papel e apenas um terço está total ou altamente protegida”, avisando que ainda são necessárias ações urgentes para atingir eficazmente a meta de 30 x 30 - 30% das áreas protegidas até 2030.
A terceira conferência dos oceanos realiza-se em Nice, França, a partir de hoje até 13 de junho, depois de uma primeira que decorreu em Nova Iorque e da segunda em Lisboa, e vai contar com a participação do primeiro-ministro, Luís Montenegro, e de vários ministros do seu executivo.
Vai ter como tema “acelerar a ação e mobilizar todos os intervenientes para conservar e utilizar de forma sustentável os oceanos”.
Notícia atualizada às 10h16
