Há registo de mais de 1700 casas afetadas, assim como 59 postos de energia e quatro casas de culto, na sequência das chuvas intensas que têm atingido Cabo Delgado.
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As chuvas intensas que têm afetado a província de Cabo Delgado, em Moçambique, causaram o desabamento de uma ponte, que deixou sete distritos isolados. O Governo moçambicano prevê estabelecer uma ligação alternativa em 48 horas para a travessia do rio Montepuez.
Os dados preliminares do INGC indicam que "8600 pessoas foram afetadas pela chuva, acompanhada de ventos fortes, desde o dia 26 de dezembro" na província de Cabo Delgado, lê-se num documento da entidade.
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Há registo de mais de 1700 casas afetadas, assim como 59 postos de energia e quatro casas de culto. As intempéries destruíram ainda 13 salas de aula parcialmente, com 1500 alunos atingidos naquela província.
Ricardo Machava, jornalista do grupo Soico, explica à TSF que, "acima de tudo, o que se via até ontem era o desespero, porque não havia nenhuma informação". Como relata o jornalista, "as autoridades governamentais só apareceram durante o período da tarde".
A situação de desespero adensou-se depois de mais de "24 horas com a população ao relento, sem informações".
"Durante a madrugada de sábado até ao dia de ontem, muitas pessoas, sobretudo crianças e idosos, estavam ao relento, sem água potável para beber, sem comida e sem qualquer tipo de assistência", reporta Ricardo Machava .
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A assistência "só começou hoje de manhã", quando foi estabelecido um sistema de transporte com duas embarcações nas margens do rio. No entanto, este auxílio não tem expressão suficiente, de acordo com o repórter. "São duas embarcações para centenas, senão alguns milhares de pessoas, que estão a precisar de transporte."
Ricardo Machava conta também que já foi garantido o reforço de embarcações neste transporte.
Quanto à reconstrução da ponte, "não há data prevista", até porque, como analisa Ricardo Machava, a "obra pode levar meses, talvez até um ano".
"Mas existe alguma pressão que pode jogar a favor, porque no distrito de Palma estão as grandes indústrias de gás, e isso pode ajudar o Governo a sentir pressão para flexibilizar este transporte."
As chuvas intensas já fizeram cinco vítimas mortais na região, e duas pessoas continuam desaparecidas. O jornalista dá conta de situações em que a forte corrente das águas levou ao desaparecimento de pessoas. "Durante o dia de ontem, domingo, houve incidentes. Infelizmente, pessoas que, no meio do desespero, procuraram atravessar o rio, porque o caudal ainda era muito violento, acabaram por ser arrastadas. Nós contabilizámos três homens", relata.
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Nestas situações, acrescenta, dificilmente se pode efetuar um resgate. "Não temos helicópteros que possam ajudar a fazer a busca de pessoas desaparecidas", justifica. Apesar destas limitações, a força humana ajudou a travar um dos desaparecimentos antes das possíveis consequências trágicas. "Um dos jovens foi ajudado pela população a chegar à margem", adianta Ricardo Machava.
A pontes sobre o rio Montepuez, na Estrada Número 380, desabou na madrugada de sábado. No mesmo dia, o Governo moçambicano emitiu um alerta laranja para todas províncias do país, como forma de dar celeridade à mobilização de recursos para a assistência a vítimas e à reposição de danos, tendo em conta que época chuvosa no país só termina em abril.
Além de Cabo Delgado, as chuvas atingiram uma parte de Nampula, mas em regime fraco e moderado, indicou o delegado do INGC naquela província, Alberto Armando, em declarações à Lusa.
Em abril deste ano, alguns pontos da província de Cabo Delgado foram atingidos pelo ciclone Kenneth, que causou a morte a 45 pessoas e afetou outras 250 mil.
Um mês antes da passagem do Kenneth, o centro de Moçambique foi devastado pelo ciclone Idai, que provocou 604 mortos e afetou cerca de 1,5 milhões pessoas no centro do país, além de destruir várias infraestruturas.
Entre os meses de novembro e abril, Moçambique é ciclicamente atingido por ventos ciclónicos oriundos do Índico e por cheias com origem nas bacias hidrográficas da África Austral.
No total, 714 pessoas morreram durante o período chuvoso em 2018/2019, incluindo 648 vítimas dos ciclones Idai e Kenneth.