Oito pessoas julgadas a partir desta segunda-feira no caso de professor decapitado em França
Quatro anos depois do assassínio de Samuel Paty, professor de história e geografia, morto por um terrorista em frente ao colégio onde lecionava, começou esta segunda-feira o julgamento de oito suspeitos – sete homens e uma mulher – acusados de estarem envolvidos direta ou indiretamente no crime
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Começa esta segunda-feira o julgamento de oito suspeitos, acusados de estarem envolvidos na morte de Samuel Paty, o professor decapitado a 16 de outubro de 2020, a caminho do colégio onde lecionava. O seu assassino, um jovem radical islâmico de origem chechena e nacionalidade russa, foi abatido pela polícia.
Tudo começa com uma mentira: a de uma aluna de 13 anos que acusou o professor de história e geografia de discriminação contra muçulmanos. Essa história, completamente inventada, foi amplificada nas redes sociais pelo pai da adolescente, Brahim Chnina (52 anos), e pelo ativista islâmico Abdelhakim Sefrioui (65 anos).
Os dois homens são, hoje, acusados de divulgar informações falsas e de revelar a identidade do professor e enfrentam a acusação de “cumplicidade em homicídio terrorista”, que pode levar à prisão perpétua.
A irmã de Samuel Paty, Mickaëlle Paty, não acredita que o processo possa mudar alguma coisa. "O que espero deste julgamento? Nada. A verdade judicial que pode emergir será apenas um esboço da realidade. Em relação às atitudes dos dois detidos, vamos confrontar-nos à repetição das suas linhas de defesa. O pai da aluna dirá que acreditou na mentira da filha, e Abdelhakim Sefrioui vai continuar a desviar o julgamento para a islamofobia estatal", descreveu Mickaëlle Paty.
A advogada dos pais de Samuel Paty, Virginie Leroy, afirma que a campanha feita nas redes sociais contra o professor levou ao ataque terrorista. "Estamos a falar de rumores que foram lançados nas redes sociais e quem os divulgou sabia muito bem o que estava a fazer. A contribuição de todos aqueles que alastraram essas mentiras levou ao assassínio de Samuel Paty", defendeu.
Charlie Jacquin, professor de desporto e ex-colega de Samuel Paty, considera este julgamento essencial para compreender as circunstâncias da morte do colega. " Preciso saber o que aconteceu, porque até agora é um como um enigma. Quero entender o que os acusados tinham em mente, o que estava a ser planeado, o que esperavam... Se realmente sabiam desde o início que iria acabar assim", conta.
Para o ex-colega de Samuel Paty, este julgamento é uma etapa fundamental, que se junta à mudança de nome do colégio, que será alterado em homenagem ao colega assassinado. "Também é de certa forma um processo terapêutico; já passaram quatro anos e houve vários marcos importantes. Hoje, estamos diante de dois grandes passos: a mudança de nome do colégio para Samuel Paty, que acontecerá em breve, e o julgamento dos adultos. Depois disso, será possível encerrar esse capítulo e tentar passar a outra coisa", concluiu.
Nos dias que antecederam o seu assassínio, e no seguimento de múltiplas ameaças, o professor transportava um martelo na mochila. O julgamento, que pode durar até 20 de dezembro, representa também uma oportunidade para expor a solidão e o medo que Samuel Paty enfrentava.
