Não foram pagas indemnizações, mas documentos internos revelam que muitas mulheres alegadamente abusadas por funcionários da organização receberam dinheiro indiretamente.
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A Organização Mundial da Saúde (OMS) pagou 250 dólares (cerca de 230 euros) a pelo menos 104 mulheres vítimas de abusos sexuais durante a resposta à epidemia de Ébola, de 2018 a 2020, na República Democrática do Congo (RDC).
Oficialmente, não foram pagas quaisquer indemnizações às vítimas, mas a agência de notícias Associeted Press teve acesso a documentos internos da OMS e revela esta terça-feira que a organização quis ajudar indiretamente as mulheres alegadamente vítimas de abusos por parte dos seus funcionários, muitas das quais acabaram por engravidar.
Em 2021, um inquérito independente que investigou denúncias de abusos sexuais no Congo identificou 21 funcionários locais e internacionais contratados pela OMS entre os alegados abusadores. As vítimas eram mulheres e raparigas vulneráveis, sobretudo em situação económica precária. A mais jovem tinha 13 anos.
A OMS pediu desculpa publicamente e prometeu repercussões contra os acusados e respetivos supervisores. Sabe-se agora que também terá pago às vítimas.
Segundo o relatório assinado pela diretora da OMS para prevenção e resposta à exploração sexual, Gaya Gamhewage, consultado pela Associeted Press, cada vítima recebeu a quantia única de 250 dólares.
Trata-se de um valor inferior ao que é pago por dia a alguns oficiais das Nações Unidas na região e apenas poderá cobrir as despesas médias de quatro messes num país onde muitas pessoas sobrevivem com menos de 2,15 dólares diários.
É um valor escasso para apoiar vítimas como a mulher que, segundo a OMS, deu à luz um bebé com malformações que requerem tratamentos médicos especiais, ou outras 17 mulheres que tiveram filhos na sequência dos abusos.
Além disso, o dinheiro não foi pago diretamente. Para receber o valor atribuído pela organização as mulheres tiveram de completar curso que lhes permitissem começar "atividades geradoras de rendimento". Ou seja, não se tratou de uma indemnização assumida.
Muitas mulheres vítimas de abusos não receberam qualquer apoio. Quase um terço das vítimas foi impossível de localizar, segundo os documentos internos, e pelo menos uma dúzia recusou o dinheiro.
Duas mulheres entrevistadas por Gaya Gamhewage no Congo disseram que o que mais queriam era que os "perpetuadores fossem responsabilizados para que não pudessem magoar mais ninguém".
O orçamento da Organização Mundial de saúde destinado a prevenir abusos sexuais no Congo ascende a 1,5 milhões de dólares. Mais de metade corresponde ao valor pago a funcionários da ONU, 12% destina-se a atividades preventivas e 35% ao "apoio de vítimas", que inclui ajuda legal, custos de transporte e apoio psicológico.