Onda de calor agrava crise de milhões de palestinianos deslocadas em Gaza, que sobrevivem sem eletricidade e água potável
Mais de 88% do enclave palestiniano está sujeito a ordens de deslocação forçada ou transformado em área militarizada pelo Exército israelita
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A ONU alertou esta quinta-feira para a onda de calor que está a atingir Gaza, com temperaturas superiores a 40 graus Celsius, agravando a situação de milhares de deslocados que sobrevivem em acampamentos improvisados, sem eletricidade e água potável.
“Com a escassez de água disponível, aumenta a desidratação”, avisou a Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA, na sigla em inglês), relatando que, entre bombardeamentos, deslocações forçadas e a falta de eletricidade e combustível, “não há alívio para o calor extremo” no enclave.
Às condições extremas soma-se o facto de, segundo o Departamento Meteorológico Palestiniano (PMD, na sigla em inglês), as temperaturas estarem entre oito e nove graus acima da média anual, o que representa um risco especial para pessoas com doenças respiratórias ou alergias ao pó.
A onda de calor deverá manter-se esta quinta-feira, antes de uma ligeira descida a partir de sexta-feira, embora os valores “continuem entre quatro e cinco graus acima do habitual para a época”, previu o PMD.
De acordo com o Escritório da ONU para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA), mais de 88% do enclave palestiniano está sujeito a ordens de deslocação forçada ou transformado em área militarizada pelo Exército israelita.
A cidade de Rafah, no sul, foi designada por Israel como destino das evacuações decretadas até 6 de maio de 2024, quando uma operação militar forçou o deslocamento das 1,4 milhões de pessoas que ali se refugiavam (numa população total de 2,1 milhões) para a zona costeira de Mawasi e outros pontos de Gaza.
Na sobrelotada Mawasi encontram-se cerca de 425 mil pessoas em tendas, sem eletricidade nem água potável, segundo o OCHA.
A ofensiva israelita em Gaza começou depois dos ataques do Hamas, no poder no enclave desde 2007, em 7 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1200 pessoas e perto de 250 foram feitas reféns. Desde então, a operação militar israelita causou já mais de 61 mil mortos, a destruição de quase todas as infraestruturas de Gaza e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas, perante acusações de genocídio por vários países e organizações.
A ONU tem alertado para uma situação de fome generalizada no enclave, onde Israel bloqueou a entrada de ajuda humanitária desde há meses e que retomou recentemente, apesar de a União Europeia (UE) e organizações humanitárias reclamarem que a quantidade é insuficiente para suprir as necessidades da população de mais de dois milhões de pessoas.