Quer Israel quer os grupos armados palestinianos podem ter cometido "crimes de guerra" durante o conflito na faixa de Gaza em 2014, consideram as Nações Unidas num relatório divulgado hoje em Genebra. Hamas saúda relatório, Israel chama-lhe parcial.
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A Comissão Independente de inquérito das Nações Unidas sobre aquele conflito reuniu "informações substanciais que apontam para possíveis crimes de guerra cometidos por Israel e pelos grupos armados palestinianos", indica-se no relatório pedido pelo Conselho dos Direitos Humanos da ONU.
Mais de 2.140 palestinianos, 1.462 dos quais civis e um terço destes crianças, e 73 israelitas, sobretudo soldados, morreram no conflito de sete semanas entre julho e agosto de 2014.
"A extensão da devastação e o sofrimento humano em Gaza foi sem precedentes e terá impacto sobre as gerações vindouras", disse a presidente da comissão, a juíza de Nova Iorque Mary McGowan Davis, num comunicado.
No relatório refere-se o "enorme poder de fogo" utilizado em Gaza, com Israel a lançar mais de 6.000 ataques aéreos e a disparar 50.000 projéteis de artilharia durante os 51 dias que durou a operação.
Os grupos armados palestinianos dispararam sobre Israel no mesmo período 4.881 mísseis e 1.753 morteiros. Seis civis morreram e pelo menos 1.600 outros ficaram feridos.A ONU denuncia "a impunidade que prevalece a todos os níveis" no que se refere à ação dos forças israelitas e apela a Israel para "inverter o seu lamentável histórico" e julgar os responsáveis.
Lamenta igualmente que as autoridades palestinianas tenham "falhado sempre" na condução à justiça dos que violam as leis internacionais.
A comissão expressa "preocupação com a ampla utilização por Israel de armas letais num importante raio" em torno do impacto, criticando igualmente o disparo "indiscriminado" de milhares de foguetes por palestinianos visando "espalhar o terror" entre os civis israelitas.
Israel opôs-se vivamente à decisão de realização desta investigação e não permitiu à comissão de inquérito da ONU deslocar-se ao local.
A comissão recolheu os testemunhos dos dois lados por teleconferência ou por telefone. O presidente da comissão demitiu-se por pressão de Israel, retardando a publicação do relatório de março para junho.
Na reação ao documento, o Governo israelita atacou o que chamou a parcialidade do Conselho dos direitos humanos da ONU, com o ministério dos Negócios Estrangeiros a referir que vai analisar as conclusões de um relatório "encomendado por uma instituição notoriamente parcial e que obteve um mandato abertamente parcial".
"Todo o mundo sabe que as motivações políticas e os falhanços morais determinaram desde o início a integridade do processo que conduziu à elaboração deste relatório", acrescentou o porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros, Emmanuel Nahshon. "É lamentável que o relatório não reconheça a profunda diferença entre o comportamento moral de Israel durante a operação 'Barreira protetora' e as organizações terroristas que enfrentaram", prosseguiu.
Por seu lado, o Hamas saudou o relatório, considerando que a ONU condenou "o ocupante sionista pelos seus crimes de guerra durante a última agressão contra Gaza", declarou à agência noticiosa AFP Fawzy Barhum, um porta-voz do movimento islamita no poder na Faixa de Gaza.
Em Ramallah, na Cisjordânia ocupada, um responsável oficial da Organização de Libertação da Palestina (OLP) considerou que o relatório reforça a vontade do Hamas de se dirigir ao Tribunal Penal Internacional [TPI]. Os palestinianos estão a tentar desencadear um processo criminal contra Israel no TPI, no âmbito de uma ofensiva diplomática generalizada junto de diversos organismos internacionais.