ONU avisa que morreram mais de 36 mil civis em 14 guerras no ano passado e que a legislação se está a desmoronar
Tom Fletcher teme que o número real seja bastante mais alto. O subsecretário-geral da ONU para os assuntos humanitários lembra que além dos ataques diretos, também a destruição de infraestruturas como centrais elétricas, hospitais ou escolas afetam a vida de milhões de civis
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A estrutura criada no século passado para proteger os civis em casos de conflito está a desmoronar-se.
O aviso é feito pelo subsecretário-geral da ONU para os assuntos humanitários e coordenador da ajuda de emergência, Tom Fletcher. O diplomata falava na abertura de uma reunião do conselho de segurança sobre os civis e a guerra, dizendo que o desrespeito pela lei internacional e pelas populações se tem multiplicado pelo mundo.
Tom Fletcher defende que os civis precisam cada vez mais que as organizações internacionais e os estados os protejam. Só o ano passado as Nações Unidas registaram a morte de mais de 36 mil civis em 14 guerras
Tom Fletcher teme que o número real seja bastante mais alto. O subsecretário-geral da ONU para os assuntos humanitários lembra que além dos ataques diretos, também a destruição de infraestruturas como centrais elétricas, hospitais ou escolas afetam a vida de milhões de civis.
Os casos de desaparecimentos forçados, deslocação de populações e de violência sexual também aumentaram desde o início do século, assim como ataques a trabalhadores humanitários e jornalistas.
As novas tecnologias também estão a mudar a guerra, há informações de que a inteligência artificial está a ser usada para selecionar alvos militares o que levanta preocupações sobre o respeito pela lei internacional e o facto de o fator humano estar a ser descurado.
Também diretora-executiva da ONU mulheres salientou as novas formas de violência de género. Quando não são atacadas fisicamente, as mulheres são alvo
de ataques digitais, deep fakes, assédio e desinformação. O online transformou-se num campo de batalha e Sima Bahous dá o exemplo da Ucrânia, onde 81% das jornalistas foram alvo de violência na internet.
Sima Bahous lembra que as mulheres não são só atingidas pelo fogo cruzado, são alvos de crimes específicos que afetam a saúde mental de milhares. Em Gaza, 75% das mulheres sofrem de depressão e as raparigas desejam morrer.
Tom Fletcher e Sima Bahous defendem que para a situação mudar é preciso acabar com a impunidade, uma das formas de o fazer e os tribunais nacionais julgarem crimes de guerra que aconteceram no estrangeiro.
Portugal, Alemanha e França foram alguns dos países que já julgaram crimes, por exemplo, praticados pelo estado islâmico na Síria e Iraque.