OpenEuro LLM é um projeto que pretende criar modelos de Inteligência Artificial que sejam transparentes, com as várias línguas europeias. Uma terceira via – para já, sem portugueses – e que tem o objetivo de responder a um mercado onde gigantes americanos e chineses já dominam. A TSF conversou com o coordenador
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Open Euro LLM é a solução europeia na linguagem da Inteligência Artificial. Um projeto inovador com um investimento inicial que pode chegar aos 90 milhões de euros, que não tem nenhuma empresa ou instituição portuguesa a participar e que pretende desenvolver modelos de linguagem de grande escala. Será, no fundo, uma resposta da Europa ao Chat GPT americano ou ao Deep Seek chinês? O coordenador do projeto, Jan Hajič, da Universidade Charles, na Chéquia, prefere dizer, em entrevista à TSF, que é uma solução necessária na Europa, contemplando todas as línguas faladas na União Europeia.
"Bem, não é exatamente para contrapor, mas para desenvolver uma solução necessária na Europa, dadas as condições específicas que existem na Europa, o que significa que temos de ter um modelo que funcione muito bem para todas as línguas europeias. O que não é o caso dos modelos que vêm tanto do Oriente como do Ocidente, mas certamente esse será o nosso foco. E também para ser um modelo aberto, como dissemos antes", explica à TSF Jan Hajič.
O responsável afirma que "não se trata de uma concorrência direta, no sentido de que queremos ter um modelo grande que supere alguém nos parâmetros de referência, mas sim uma solução que seja acessível às empresas europeias que possam desenvolver as aplicações e inovações baseadas nesses modelos, e que o façam em todas as línguas europeias da melhor forma possível para todas elas".
Uma espécie de ChatGPT europeu, mas que se compromete a seguir a legislação e os standards comunitários: "Claro que essa é a condição necessária, porque agora com a lei da IA em vigor, embora ainda tenha de ser implementada com exatidão, queremos ter a certeza de que tudo o que fizermos pode ser usado para qualquer aplicação, incluindo aquelas que são abrangidas pela regulamentação, como as aplicações de IA de alto risco."
O consórcio por detrás do projeto iniciou os trabalhos no dia 1, com apoio financeiro da Comissão Europeia. Jan Hajič admite que entre as duas dezenas de empresas e instituições participantes não há portugueses.
"Agora não existe nenhuma empresa portuguesa, mas queríamos manter isto o mais pequeno possível, embora mesmo 20 seja um número bastante grande de parceiros, o que já será um desafio coordenar. Então, queríamos manter o projeto relativamente pequeno, mas estamos abertos à colaboração ou à experiência de pessoas que realmente construíram algo no passado. Assim, construiremos um conselho de parceria estratégica aberto, onde convidaremos pessoas da indústria e do meio académico, mesmo não europeias, que tenham os conhecimentos necessários para nos ajudar. E isto pode incluir pessoas de Portugal, porque é claro que conhecemos empresas e universidades em Portugal que são muito boas a construir isto."
Jan Hajič garante à TSF que não há razões políticas ou técnicas para não haver portugueses no consórcio. Entre os participantes principais, há empresas, universidades, laboratórios e centros de computação de alto desempenho de apenas cerca de uma dezena de estados-membros da UE, mais a Noruega: "O português faz parte da UE, portanto, mesmo dadas as restrições do programa Europa Digital, podiam ter entrado portugueses. Foi apenas um esforço nosso para manter o projeto nesta fase com o menor número possível de parceiros. Há outros países que também não estão representados diretamente. Infelizmente não pudemos ter alguns outros parceiros com os quais trabalhávamos antes, porque simplesmente as regras não permitem. O foco está na Europa em geral, metade disso é dinheiro público europeu. Por isso, queremos realmente concentrar-nos em algo que seja útil para a Europa e para a indústria e os serviços europeus, que funcione muito bem em todas as línguas europeias. Esse é o nosso foco. E, nesse sentido, esperamos ter uma solução que seja preferida pela indústria europeia, porque cobrirá todas as línguas europeias melhor do que os modelos atuais, pelo menos para muitas delas."
O OpenEuroLLM recebeu da Comissão Europeia o selo STEP (Strategic Technologies for Europe Platform) como reconhecimento da excelência do projeto.