A Comissão Eleitoral anunciou, na quinta-feira à noite, a vitória do líder do ZANU-PF, reeleito com quase 50,8% dos votos. Oposição fala em resultados "falsos".
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A oposição no Zimbabué considera que os resultados das eleições de segunda-feira não podem confirmados e, por isso, não reconhece a vitória de Emmerson Mnangagwa com 50,8% dos votos.
Na rede social Twitter, Nelson Chamisa, líder da oposição, pediu à Comissão Eleitoral que divulgue resultados eleitorais verificados e aprovados pelos partidos.
O líder do Movimento para a Mudança Democrática considera um "escândalo" a decisão da Comissão de divulgar os resultados sem o aval de todos os partidos. "O nível de opacidade, falta de verdade, decadência moral e défice de valores é desconcertante", escreve.
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Antes de Nelson Chamisa, também Morgan Komichi, porta-voz do Movimento para a Mudança Democrática, tinha acusado a Comissão Eleitoral de divulgar "resultados falsos". "Não subscrevemos esses resultados", adiantou.
O novo presidente, Emmerson Mnangagwa, já reagiu, falando num novo começo para o país. Humildade, foi a expressão escolhida para se dirigir ao povo do Zimbabué e agradecer a vitória eleitoral. Numa mensagem publicada no Twitter, a rede social que tem utilizado para falar aos cidadãos e reagir aos acontecimentos dos últimos dias, o antigo braço direito de Robert Mugabe e líder do ZANU-PF - o partido vencedor das eleições presidenciais -, sublinha que, embora tenha havido divisão nas urnas, o país está "unido nos sonhos".
"Vamos dar as mãos em paz, unidade e amor e juntos construir um novo Zimbabué para todos!", vinca o presidente eleito.
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Durante a tarde de quinta-feira, os confrontos entre manifestantes, exército e forças de segurança provocaram seis mortos na capital, Harare. Uma situação que já levou a presidente da Comissão Eleitoral, Priscilla Chigumba, a lamentar a violência e a apelar a que seja respeitada a Constituição do Zimbabué.
"A Comissão Eleitoral lamenta profundamente os acontecimentos que levaram à perda de vidas humanas. Enquanto cidadãos, devemos ser capazes de fazer melhor para evitar banhos de sangue durante processos eleitorais críticos", afirmou.
Da África do Sul também chega uma mensagem em jeito de apelo por parte do presidente Cyril Ramaphosa, que pede a todos os líderes políticos que aceitem os resultados eleitorais, sublinhando ainda que existem "desafios" para cidadãos do Zimbabué, mas que a Constituição e as leis eleitorais "têm de ser respeitadas".
Os protestos contra as eleições já mataram 6 pessoas no Zimbabwe. Durante o dia de ontem, as lojas na capital, Harare, foram aconselhadas a fechar portas. O secretário-geral da ONU, António Guterres, mostrou-se preocupado e apelou à calma no país.
"Robert Mugabe é um derrotado nestas eleições", diz investigadora
Ouvida pela TSF, Teresa Nogueira Pinto, investigadora do Instituto Português de Relações Internacionais (IPRI), lembra que, em vésperas das eleições presidenciais, Robertu Mugabe, indicou que iria apoiar Nelson Chamisa, o líder do Movimento para a Mudança Democrática. A investigadora considera, por isso, que a vitória de Emmerson Mnangagwa, do ZANU-PF, significa uma derrota para o antigo presidente do Zimbabué.
"Emmerson Mnangagwa tornou-se numa espécie de inimigo número um de Mugabe, daí que ele tenha uma grande legitimidade no processo que o afasta do poder, e eu julgo que também beneficia nas urnas dessa legitimidade. De facto, a era Mugabe acabou, mesmo que tenha sido um homem muito próximo de si e que fez parte do seu regime a acabar com ela, portanto, Mugabe é um derrotado nestas eleições", defende Teresa Nogueira Pinto.
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No mês passado, a investigadora do IPRI participou numa conferência na capital zimbabueana e constatou que, não só no meio académico, mas também nas ruas de Harare, há agora uma perspetiva "mais otimista" do futuro do país. "É esta ideia de que houve uma mudança no sentido em que hoje se podem dizer coisas e debater questões que antes era impensável debater. Várias pessoas me disseram 'o país mudou, já ninguém nos vem prender', e, efetivamente, havia esse sentido de maior liberdade", conta à TSF.
Recordando aquilo que ouviu, em particular por parte de agentes do meio académico, Teresa Nogueira Pinto adianta ainda que, com a proximidade das eleições presidenciais, notou que o ambiente era de que os resultados eleitorais poderiam significar "um novo começo".
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"Toda a gente tem uma grande vontade de tocar a sua vida para a frente e isso parece-me ser compatível com esta vitória de Emmerson Mnangagwa, ainda que os resultados, de facto, sejam questionáveis", diz, sublinhando que "não sabemos se foi uma vitória da democracia em toda a linha".