A TSF falou com um habitante de Goutha. Segunda-feira foi o dia mais mortífero desde que a ONU aprovou o cessar-fogo: 88 mortos. Há acusações de ataque químico.
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Apesar da chegada de um comboio humanitário, os ataques não pararam e ainda esta manhã, quando a TSF falou com um dos habitantes da região, as bombas eram audíveis.
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Ahmad Khanshour diz que os ataques já fazem da vida da população mas sobreviver é cada vez mais difícil. "Eu acordo por volta das 05h00 e vou a um pequeno mercado tentar encontrar qualquer coisa para comer. Hoje em dia quase não se encontra nada porque o regime destruiu tudo o que tínhamos", conta.
Esta segunda-feira, o primeiro comboio humanitário entrou em Goutha Oriental mas teve de sair antes de descarregar todo o material. Um novo comboio só é esperado na próxima quinta-feira, mas os habitantes querem ver para crer.
Nesta altura, a fome afeta praticamente todos os civis mas o pior, diz Ahmad, é tentar consolar os mais pequenos: "Eles gritam a noite toda. Ontem não conseguiram dormir e choraram. Pode imaginar uma pequena cave com mais de 20 bebés e crianças, todas com medo. Não há luz, não há comida. Eles choram noite e dia. É um pesadelo!"
Ahmad Khanshour ficou sem casa há dez dias, quando os ataques contra Goutha Oriental se intensificaram. Recorda que durante a noite, às escuras, teve de transportar os dois filhos e a mulher para a cave de um familiar. Neste momento, cerca de 40 pessoas estão a viver nessa cave, mais de metade são menores.
Para distrair os dois filhos, e tentar evitar que fiquem doentes, Ahmad tenta trazê-los todos os dias à rua, mas nem sempre é possível. Há alturas em que, por causa dos bombardeamentos, ficam dias sem ver a luz do sol.
Ahmad Khanshour recusa as justificações dadas pelo regime de Bashar Al Assad de que a partir de Goutha Oriental os rebeldes têm atacado Damasco. Este sírio afirma que basta visitar o Google Earth para perceber o grau de destruição em Goutha, quando a capital poucos danos sofreu.
Quanto aos rebeldes que estão na zona, Ahmad Khanshour garante que fazem parte do exército livre da Síria e que não são jihadistas.