Os 25 anos da Queda do Muro de Berlim estão a ter um sabor amargo para o antigo chanceler alemão. O autor da biografia oficial de Helmut Kohl decidiu editar um livro onde revela alguns desabafos que ouviu durante as longas entrevistas de preparação da obra. Entre outros, Kohl disse que Merkel «nem sabia comer com faca e garfo».
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"Zangam-se as comadres, sabem-se as verdades". O ditado popular é o que melhor descreve a história de um livro que Helmut Kohl dava tudo para que não fosse editado.
O jornal espanhol ABC conta tudo. Heribert Schwan e Tilman Jens são os autores de "Legado". A obra é apresentada hoje em Berlim, mas até ao último minuto, o antigo chanceler usou todas as armas que podia para travar o seu lançamento. Tudo porque o livro inclui alguns desabafos "incómodos" para o político alemão.
Ficamos a saber, por exemplo, que Kohl afirmou que o antigo presidente alemão, Christian Wulff ,era um «zero à esquerda» e um «grande traidor». Sobre Angela Merkel referiu que «não sabia comer de faca e garfo» e de Mikhail Gorbachev disse que era um «fracassado».
As opiniões de Helmut Kohl foram manifestadas durante as longas horas que Schwan, um dos autores do livro, recolheu quando preparava a biografia oficial do antigo chanceler. Desde 2001, os dois reuniram-se mais de 100 vezes e tiveram longas conversas que deram origem a 630 horas de gravação e combinaram com a editora que a obra seria editada em quatro volumes.
Porém, quando o terceiro volume foi editado o antigo chanceler cancelou o trabalho com o jornalista que estava a escrever a obra e deu início a um duro litígio entre ambos. O último volume retratava os últimos quatro anos de Kohl no poder. 300 páginas do último capítulo da biografia já estão escritas. De acordo com Heribert Schwan, por detrás desta polémica está a mulher de Kohl, administradora da sua herança e 34 anos anos mais nova, de nome Maike Richter.
A revista "Focus" conta que Helmut Kohl pediu aos seus advogados que fizessem tudo para travar a publicação da obra. Mas em Munique, uma porta-voz da editora Heyne respondeu que «até agora não recebemos nenhum mandato para reter a publicação. os livros já estão a ser distribuídos e amanhã(hoje) vão estar à venda nas livrarias».
Presidente da CDU entre 1973 e 1998, Helmut Kohl é conhecido como o "pai" da reunificação alemã quando desempenhou o cargo de chanceler entre 1982 e 1998. A 3 de outubro de 1990, quando sucedeu a Queda do Muro de Berlim, o antigo chanceler passou a dirigir um país de novo unido. Numa altura em que se celebram os 25 anos de reunificação, os comentários sobre o fim da ex-RDA estão a causar um "terramoto" na sociedade alemã.
Segundo Kohl, o derrube da RDA não se deveu a uma revolução pacífica, mas sim à debilidade do então líder soviético, Mikhail Gorbachev. «É totalmente falso pensar que o "Espírito Santo" chegou a Leipzig e mudou o mundo» comentou de forma sarcástica ao jornalista Heribert Schwan, durante as conversas que mantiveram entre 2001 e 2002. Acrescentando que «Gorbachev teve de admitir que não podia mais suster o regime», por isso a debilidade de Moscovo foi a principal causa do «afundamento da ditadura comunista», e não a pressão popular. Isso é um mito.
O jornal Der Spiegel pré-publicou na edição desta semana, algumas das frases mais "explosivas" de Kohl, entre as quais algumas críticas contra a política europeia que a chanceler Angela Merkel e o ministro das Finanças Wolfgang Schäuble defendem. «Eles não têm ideia de nada. Não sabem. Não vêm mais além. Não entendem nada».
Para Helmut Kohl, a crise da dívida soberana não devia ter sido encarada como uma crise do euro, mas sim «como o resultado de erros cometidos pela União Europeia e pelos Estados membros». Defende, ainda, que o Pacto de Estabilidade em vigor na zona euro nunca devia ter sido suavizado. Devia antes ter sido fortalecido para tornar a Europa mais unida.