Em sessão virtual da câmara de Bragança Paulista, discussão sobre abate de árvores é interrompida quando um vereador do partido mais conservador do Brasil pega numa cueca feminina e a cheira.
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A sessão virtual da câmara de Bragança Paulista, cidade 90 km a norte de São Paulo, decorria sem sobressaltos.
Fabiana Alessandri, do PSD, e Quique Brown, do Partido Verde, estavam no uso da palavra discutindo a necessidade do corte de eucaliptos. Fabiana alertava para os riscos ao trânsito que as árvores tombadas à beira da estrada, ora por raios, ora por fogos, causam à população. Brown parecia concordar.
A julgar pelas suas expressões faciais, a meia dúzia de vereadores escutava, ou fingia escutar, com atenção, o debate na animada live.
Um deles, no entanto, parecia alheado da discussão.
Ostentando nome de guerra, como é costume na política local brasileira, o vereador Ditinho do Asilo pegou nas mãos uma calcinha, como são chamadas as cuecas femininas no país, de cor encarnada berrante, e começou a manuseá-la enquanto se discutiam os prós e os contras do corte de eucaliptos.
Um colega vereador ainda gritou "Dito", para tentar avisá-lo, mas não valeu de nada.
Ditinho do Asilo a essa hora já cheirava o objeto gerando um espanto constrangido nos companheiros da Câmara Municipal, ainda às voltas com os eucaliptos.
O vereador pertence ao Partido Social Cristão, liderado nacionalmente pelo evangélico Pastor Everaldo, uma força política defensora do conservadorismo dos costumes a que já pertenceu, por exemplo, o hoje presidente Jair Bolsonaro e os seus três filhos políticos.
Segundo Ditinho, "foi ingenuidade". Ao desligar o áudio, pensou que havia desligado também o vídeo. Diz ele que estava apenas a desembrulhar um presente dado por um amigo.
Com 53 anos, casado e orgulhoso pai de um polícia e de uma médica, Ditinho corre agora o risco de perder o cargo.
"Eu não vou branquear a situação não, você pegar um objeto de fetiche enquanto uma mulher está falando é asqueroso", disse o "verde" Quique Brown.
O assunto seguiu para a comissão de ética da Câmara Municipal.
João Almeida Moreira, correspondente da TSF em São Paulo, escreve todas as quintas-feiras a crónica Acontece no Brasil.