Giorgia Mirto começou a busca pelas identidades dos migrantes mortos no Mediterrâneo para uma investigação da Universidade de Amesterdão.
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Giorgia Mirto já percorreu grande parte dos cemitérios da costa sul italiana. Tem como missão encontrar e contabilizar as sepulturas de migrantes que morreram ao tentar chegar à Europa, vítimas de naufrágios, desidratação, hipotermia ou até mesmo de tiroteios.
Muitos corpos acabam por nunca ser recuperados, mas os que dão à costa recebem uma morada final em terra europeia.
A investigadora italiana quer saber quem são estes migrantes para poder dar uma resposta às famílias que os procuram.
"A ausência de um corpo e a ausência da certeza da morte leva a uma condição chamada luto ambíguo", explica."É uma situação em que não se sabe se se chora o ente querido ou se se espera que ele volte."
"A certeza de haver um cadáver ou uma sepultura dá início a este processo de luto, que não é apenas psicológico. Há também consequências económicas, práticas e sociais que são muito relevantes."
Os migrantes que aparecem na costa sem vida são sepultados em campas anónimas com placas onde se pode saber a data da morte ou do naufrágio do barco em que seguiam.
Mirto explica que a comunidade local também se envolve no luto por estes migrantes ao comprar "placas de mármore, mas também colocam flores e oferecem peluches e velas, como se costuma fazer em Itália. Além disso, autoridades municipais que tratam da sepultura e enterram-nos com tudo o que é necessário, como um caixão, um documento que indica o local onde é enterrado o corpo e um código usado para identificar cada cadáver, como por exemplo o número do corpo e a data da morte."
Para Giorgia Mirto, "o facto de serem desconhecidos aumenta a perceção da falta de uma identidade e de um valor político e social destes migrantes que morreram."
"Os migrantes sepultados nestes cemitérios têm uma história, um nome, um mundo que nós não conhecemos, mas acho que nos deve pesar na consciência."
Giorgia Mirto começou a busca pelas identidades destes migrantes em 2014 para uma investigação da Universidade de Amesterdão.
Em equipa, descobriu que entre 1990 e 2013 quase 3200 pessoas morreram ao tentar chegar à Europa e foram encontradas ao longo das fronteiras externas da União Europeia.
A investigadora siciliana insiste na procura até porque é importante dar nome a estes mortos, também do ponto de vista coletivo e social, quer para os países de origem dos migrantes quer para Itália.