Ossos e restos humanos encontrados em casa de banho de antigo ditador do Paraguai
O general Alfredo Stroessner liderou a ditadura mais longa da história moderna da América do Sul, entre 1954 e 1989. Durante o seu regime, pelo menos 420 pessoas foram mortas ou desapareceram misteriosamente.
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As autoridades do Paraguai iniciaram uma investigação depois de restos humanos terem sido encontrados numa casa que pertenceu ao ditador Alfredo Stroessner.
O antigo Presidente do Paraguai governou sob um regime autoritário e fraudulento durante 35 anos, em que pelo menos 420 pessoas foram mortas ou desapareceram misteriosamente.
Foi numa casa de banho, no interior da casa perto de Cidade do Leste, a segunda maior do Paraguai, que as ossadas, pertencentes a pelo menos quatro pessoas foram detetadas, conforme relata o The Guardian.
A comunicação social local reportou que vários membros da mesma família se encontravam inclinados sobre a área onde os restos mortais tinham sido depositados em busca de objetos de valor que pudessem estar enterrados, o que constitui uma atividade bastante comum e promovida no país americano.
María Stella Cáceres, diretora do Museu das Memórias - uma instituição dedicada a denunciar os crimes da ditadura Stroessner - explicitou ao The Guardian que era extremamente importante verificar cuidadosamente se os restos mortais pertencem, de facto, às vítimas do regime. "As vítimas não são apenas as pessoas que desapareceram, mas as suas famílias e comunidades também. Este é um crime contra a Humanidade que está em andamento, e não terminará antes de os restos serem encontrados, identificados e devolvidos", garantiu.
Rogelio Goiburú, chefe do departamento de memória histórica e reparação do Ministério da Justiça do Paraguai (DMHR), disse, por seu lado, à emissora de televisão local C9N que seriam realizadas investigações para verificar se os ossos realmente pertenciam às vítimas da ditadura.
O general Alfredo Stroessner liderou a ditadura mais longa da história moderna da América do Sul, entre 1954 e 1989, e morreu já exilado no Brasil, em 2006.
O regime do militar ficou manchado por uma opressão violenta aos grupos de oposição, o que só foi exposto em 1992, quando 700.000 documentos criados pelas forças de segurança de Stroessner - que passaram a ser conhecidos como "Arquivos do Terror" - foram descobertos numa sala trancada numa delegação da polícia em Assunção, capital do Paraguai.
Esses papéis acumulavam registos da rotina de perseguição, sequestro e tortura da ditadura do líder paraguaio, mas também apresentaram evidências da participação do Paraguai na Operação Condor, liderada pelos EUA - um programa que usou a colaboração de ditaduras militares para suprimir violentamente a oposição de esquerda na América do Sul.
A oposição política não foi o único grupo vitimado pelas forças de segurança de Stroessner. A comunidade LGBT do Paraguai também foi fortemente perseguida. Goiburú, em conversa com o C9N, mencionou que muitos membros da comunidade indígena tinham sido igualmente afetados, bem como centenas de jovens, que foram abusadas sexualmente por membros do regime.