João Pedrosa decidiu ficar na cidade chinesa que é o epicentro do novo coronavírus. Agora, escreve no site da TSF sobre o estranho dia a dia em Wuhan.
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Faz esta quinta-feira cinco semanas que, devido ao surto da epidemia do novo coronavírus, foi imposto o bloqueio da cidade de Wuhan. Há cinco semanas que eu e os meus 11 milhões de vizinhos nos mantemos retidos em casa à espera que esta "árvore de raízes amargas floresça e dê frutos".
Uma das palavras que se tem manifestado mais recorrentemente nos meus pensamentos talvez tenha sido a palavra "paciência". E dadas as circunstâncias, claro está que a expressão "paciência de chinês", de uso tão popular em Portugal, não poderia deixar de se apresentar.
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Já foram muitas as vezes que na minha vida a utilizei, mas devo confessar que até agora nunca soube qual a razão da associação tão específica do vocábulo "paciência" ao povo chinês. Procurei agora fazê-lo, e gostei particularmente de uma que está relacionada com o caractere chinês, que é utilizado para representar esta palavra. O caractere é constituído por duas palavras: uma é a expressão "punhal afiado" (parte superior do caractere) e a outra é o termo "coração" (parte inferior do caractere).
Culturalmente o povo chinês, e por respeito, prefere sempre ficar "calado" e não expressar o que lhe "vai no coração" assegurando assim que outro não será prejudicado ou venha a "perder a face". Um "coração" que suporta um "punhal afiado" conseguirá aguentar tudo.
Sem dúvida que para o povo chinês "paciência" é uma arte de sofrer sem perder a compostura. Confúcio afirmou que "a paciência é uma árvore de raízes amargas e de frutos doces". Eu espero pacientemente a confirmação desta citação.
João Pedrosa, em Wuhan (27 de Fevereiro de 2020, Dia Internacional do Urso Polar - talvez um dos animais mais pacientes ainda à face da terra)
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