"Países ocidentais devem pôr a mão na consciência." Amnistia preocupada com aumento do número de crianças-soldado
Esta quarta-feira assinala-se o Dia Internacional Contra o Uso de Crianças-Soldado. Em declarações à TSF, Miguel Marujo, da Amnistia Internacional, apela à responsabilidade dos países ocidentais para travar este recrutamento forçado e ilegal
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O número de crianças-soldado está a aumentar. O alerta é da Organização das Nações Unidas (ONU), que indica que a maioria destes menores são raparigas que são compradas, vendidas e traficadas, e que acabam por sofrer de violência sexual.
Entre as geografias onde as crianças são vítimas desta prática, a ONU destaca a Colômbia, a República Democrática do Congo, a bacia do Lago Chade, Moçambique, o Sahel, o Sudão, a Somália, a Síria e o Haiti.
Há 35 anos, a ONU comprometeu-se a proteger as crianças do recrutamento para este fim. Dez anos depois, foi adotado um protocolo que proíbe o recrutamento e a utilização de menores em conflitos armados. Apesar do documento ter sido ratificado por 173 países, o número de crianças-soldado não está a diminuir.
Em declarações à TSF, o diretor de comunicação da Amnistia Internacional, Miguel Marujo, admite preocupação e explica que este aumento “não surpreende pela extensão dos conflitos, mas surpreende sempre porque, apesar de todas as convenções internacionais e dos protocolos, continuamos a assistir a uma violação generalizada dos direitos das crianças”.
Miguel Marujo afirma que os “países ocidentais também devem pôr a mão na consciência”. “Por exemplo, no conflito do Sudão, que tem levado a confrontos entre fações no país, tem sido denunciado a utilização de crianças, mas também tem sido denunciado o tráfico ilegal de armamento para as forças em conflito e muito desse armamento vem de países ocidentais”, sublinha.
“Os países ocidentais, mesmo que digam que não e mesmo que cumpram os seus próprios territórios com todas as convenções dos direitos das crianças, estão a contribuir para que estes conflitos continuem, para que estes para que estas guerras não terminem e, ao mesmo tempo, para que os grupos armados que fazem estas guerras usem e recrutem crianças para esses mesmos conflitos armados”, afirma.
Para Miguel Marujo, a solução passa pelos países ocidentais e da União Europeia terem uma “política de tolerância zero com o armamento vendido para estes países”. “Não podem continuar a alimentar um discurso benevolente de um lado sobre a utilização de crianças em conflitos e, ao mesmo tempo, alimentar, vendendo armas para as partes em conflito”, defende.
Contudo, as soluções não ficam por aqui. O diretor de comunicação da Amnistia Internacional refere que deve ser dado acesso “humanitário, seguro e desimpedido às crianças”, mas também "eliminar explosivos de grande impacto em áreas povoadas, proibir o uso militar de escolas, proibir e eliminar as minas terrestres antipessoais”.
“Além das crianças-soldados recrutadas à força, também temos muitas crianças a viverem no centro de um conflito armado. É necessário perceber que as crianças devem ser mais do que tudo protegidas para evitar o seu envolvimento nestes conflitos”, reforça.
É assinalado, esta quarta-feira, o Dia Internacional Contra o Uso de Crianças-Soldado, uma data que visa chamar a atenção de líderes políticos para os menores de idade que participam em organizações militares. Questionado sobre se acredita se um dia será possível já não haver crianças na linha da frente dos conflitos armados, Miguel Marujo responde: “Tenho esperança."
