Países pobres precisam de seis mil milhões de dólares até 2030 para se adaptarem ao clima
A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento defende um novo modelo de financiamento das medidas contra as alterações climáticas e um renovado empenho dos países mais ricos.
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A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) disse este sábado que os países em desenvolvimento precisam de seis mil milhões de dólares até 2030 para cumprirem os seus compromissos de adaptação às alterações climáticas.
"Os países em desenvolvimento precisam de pelo menos seis mil milhões de dólares [quase 5,5 mil milhões de euros] até 2030 para cumprirem menos de metade das suas contribuições determinadas a nível nacional", ou seja, a parte nacional necessária para atingir as metas ambientais globais, lê-se numa análise da UNCTAD, que defende um novo modelo de financiamento das medidas contra as alterações climáticas e um renovado empenho dos países mais ricos.
"Numa altura em que as cidades da América do Norte estão cobertas de nuvens de fumo causadas pelos fogos no Canadá, as negociações continuavam sobre o Novo Objetivo Global Quantificável em Bona", diz a UNCTAD, lamentando que os 100 mil milhões de dólares (91 mil milhões de euros) de investimento anual em projetos de adaptação e mitigação às alterações climáticas não tenham sido cumpridos.
"Estes objetivos de financiamento climático vão substituir a promessa de 2009, que pretendia mobilizar 100 mil milhões de dólares por ano para os países em desenvolvimento, e que terminará em 2025 sem ter sido cumprido", diz a ONU, vincando que "é unanimemente aceite que 100 mil milhões de dólares é uma fração do que é necessário para ajudar os países em desenvolvimento a atingirem os objetivos climáticos em consonância com o Acordo de Paris".
O novo objetivo que deverá ser levado à conferência da ONU sobre o clima, no final deste ano, no Dubai, terá de ser ambicioso, sublinha a UNCTAD, reconhecendo que "a escala do desafio é enorme, já que 900 milhões de pessoas no mundo não têm acesso a eletricidade e mais de 4 mil milhões de pessoas não têm uma rede de segurança social".
Entre as quatro prioridades que a UNCTAD identifica, a prioridade está na questão da dívida: "a primeira e mais urgente prioridade é o sobre-endividamento, já que 60% dos países de baixo rendimento estão, ou quase, em situação de sobre-endividamento e estão a gastar cerca de cinco vezes mais no serviço da dívida do que na adaptação ao clima anualmente, minando a resiliência futura e as perspetivas de crescimento".
Aumentar o endividamento "não é uma opção de financiamento climático sustentável no contexto atual; pelo contrário, estes países precisam urgentemente de alívio da dívida, e um objetivo de longo prazo devia ser o estabelecimento de um processo multilateral de resolução da dívida que possa ajudar os países a quebrarem os ciclos viciosos da dívida e do clima", argumenta a UNCTAD.
Uma nova maneira de alocar os 650 mil milhões de dólares, cerca de 594 mil milhões de euros, emitidos pelo Fundo Monetário Internacional em Direitos Especiais de Saque para maximizar o impacto no clima e no desenvolvimento, para além de uma maior utilização do setor financeiro, principalmente concessional e multilateral, e um renovado envolvimento do setor privado no setor do clima, são outras das propostas da UNCTAD para acelerar a adaptação e mitigação dos países em desenvolvimento às alterações climáticas.