Palestinianos estão em "risco grave de genocídio". Peritos da ONU exigem cessar-fogo
Afirmando que a situação em Gaza "atingiu um ponto de rutura catastrófico", os peritos alertam para a "necessidade extrema" de alimentos, água, medicamentos e combustível.
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Um grupo de peritos em direitos humanos mandatados pela ONU alertou esta quinta-feira que "o tempo está a esgotar-se para evitar um genocídio e uma catástrofe humanitária em Gaza", exigindo, por isso, um cessar-fogo.
"Continuamos convencidos de que o povo palestiniano está em risco grave de genocídio", afirmaram os peritos numa declaração conjunta, defendendo que o "momento para agir é agora".
"Os aliados de Israel também são responsáveis e devem agir agora para impedir o seu curso de ação desastroso", salientam.
"A situação em Gaza atingiu um ponto de rutura catastrófico", afirmaram os peritos, alertando para a "necessidade extrema" de alimentos, água, medicamentos, combustível e bens essenciais, bem como para o risco de riscos sanitários iminentes.
A declaração foi assinada por Francesca Albanese, relatora especial para a situação dos direitos humanos nos Territórios Palestinianos Ocupados desde 1967. Assinaram também o comunicado os analistas da ONU para a Liberdade de Expressão (Irene Khan), Contra o Racismo (Ashwini K.P.), sobre o Direito à Alimentação (Michael Fahri), à Água (Pedro Arrojo), à Saúde Mental (Tlaleng Mofokeng) e para as Pessoas Deslocadas Internamente (Paula Gaviria).
Israel tem bombardeado fortemente a Faixa de Gaza desde que o Hamas atravessou a fronteira a 7 de outubro, matando 1400 pessoas, na sua maioria civis, e raptando pelo menos 240 outras, incluindo crianças, segundo as autoridades israelitas.
O Ministério da Saúde de Gaza, dirigido pelo Hamas, afirma que mais de nove mil pessoas foram mortas desde o início da guerra com Israel, na sua maioria mulheres e crianças.
Os peritos da ONU apelaram à libertação imediata de todos os civis mantidos em cativeiro desde o ataque do Hamas.
"Todas as partes devem cumprir as suas obrigações ao abrigo do direito internacional humanitário e dos direitos humanos", afirmaram.
"Exigimos um cessar-fogo humanitário para garantir que a ajuda chegue àqueles que mais precisam dela. Um cessar-fogo também significa que os canais de comunicação podem ser abertos para garantir a libertação dos reféns", afirmaram os peritos.
O Governo de Gaza, liderado pelo Hamas, afirmou que 195 pessoas foram mortas em dois dias após ataques israelitas em Jabaliya, o maior campo de refugiados de Gaza, com centenas de outros desaparecidos e feridos - números que ainda não foram verificados de forma independente.
Os peritos da ONU manifestaram "profundo horror" perante os ataques, classificando-os como "uma violação flagrante do direito internacional e um crime de guerra".
"Atacar um campo que abriga civis, incluindo mulheres e crianças, é uma violação total das regras de proporcionalidade e distinção entre combatentes e civis", afirmaram os relatores especiais.
"Israel e os grupos armados palestinianos devem ter em conta que até as guerras têm regras", destacam.
Os relatores especiais da ONU são figuras independentes e não remuneradas, mandatadas pelo Conselho dos Direitos Humanos. Não falam em nome das Nações Unidas, mas comunicam-lhe as suas conclusões como parte dos mecanismos de apuramento de factos e de monitorização do Conselho.