Arquipélago enfrenta uma epidemia de sarampo que já matou mais de 60 pessoas. Governo decretou encerramento dos serviços públicos e pediu a quem não é vacinado que coloque um pano vermelho à porta.
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O governo de Samoa, no Oceano Pacífico, decretou o estado de emergência e ordenou o "encerramento" do arquipélago durante dois dias para vacinar a população contra o sarampo. A epidemia da doença está descontrolada e, desde outubro, já foram infetadas mais de quatro mil pessoas, contando-se também mais de 60 mortos, na sua maioria crianças até aos 4 anos.
Com o número de vitimas a aumentar, o governo decidiu-se por medidas drásticas e pediu aos habitantes não vacinados que pendurem um pano vermelho na porta de casa.
O executivo promete que alguém se deslocará às casas em questão para vacinar os residentes, mesmo que vivam em áreas remotas.
Os serviços públicos, à exceção de água e eletricidade, vão estar encerrados nos próximos dois dias e as escolas já encerraram há um mês.
No Twitter, a enfermeira Becky Platt, da equipa médica de emergência do Reino Unido, que chegou esta terça-feira a Samoa, conta que as crianças são quem é mais afetado.
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"Vimos inúmeras crianças com complicações graves causadas pelo sarampo, muitas com problemas respiratórias e dificuldade em respirar. No essencial, temos estado a reanimar crianças toda a manhã", conta num vídeo.
A população de Samoa é de cerca de 200 mil pessoas e perto de um terço já está vacinada, mas a vacina demora duas semanas a garantir imunidade, um dado que atrapalha o objetivo de garantir que 90% da população está vacinada.
Segundo a OMS, só no hospital principal do país faltam 180 enfermeiras para levar a cabo esta tarefa. Em 2013, 90% das crianças samoanas estavam imunizadas contra o sarampo, taxa que caiu para 30% em 2019.
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O declínio é explicado pelo desleixo mas também por um erro na preparação da vacina em 2018 que ditou a morte de dois bebés e espalhou o pânico entre os pais, que pararam de vacinar as crianças.
Jose Hagan, diretor regional da OMS para a região, disse que o caso de Samoa lembra os perigos associados ao que é "provavelmente a doença mais contagiosa que conhecemos".
"Infelizmente, a taxa de mortalidade por sarampo é muito maior do que as pessoas acreditam", disse Hagan à Rádio Nova Zelândia.
"É uma doença grave e já não estamos acostumados a vê-la, por isso a sua mortalidade é uma fonte de surpresa", acrescentou.
Hagen lembrou que cerca de 21 milhões de vidas foram salvas nos últimos 20 anos através do acesso à vacina contra o sarampo.
"Entretanto, estamos a começar a ver um declínio e há surtos em todo o mundo que estão a espalhar o vírus através de viagens internacionais", afirmou.
O número de casos está a aumentar na Europa, nomeadamente na Grã-Bretanha, Grécia, Albânia e República Checa.
A doença caracterizada pela erupção de manchas vermelhas na pele é causada por um vírus que é transmitido com muita facilidade por contacto direto ou no ar. Antes do surgimento das vacinas, na década de 1970, a doença matava de sete a oito milhões de crianças por ano no mundo.
Após um declínio dramático entre 2000 e 2016, graças às principais campanhas de vacinação, o sarampo agora está a ressurgir fortemente no mundo, devido, em particular, à desconfiança em relação às vacinas.
Essa desconfiança sobre a vacina combinada sarampo-papeira-rubéola (MMR) foi provocada por um estudo de 1998 que vinculou a vacina ao autismo.
No entanto, foi rapidamente estabelecido que o autor falsificou os seus resultados e vários estudos mostraram que a vacina não aumenta o risco de autismo, afirmou a OMS em várias ocasiões.