"Para muito breve." Maria Luís Albuquerque promete novo pacote europeu contra a Rússia
No segundo dia do Seminário Diplomático do MNE, “em casa”, Maria Luís Albuquerque fez a sua primeira intervenção pública enquanto comissária europeia
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Maria Luís Albuquerque, no seminário diplomático em Lisboa, na primeira intervenção pública enquanto comissária europeia: “Sob a minha responsabilidade, naturalmente que em coordenação com alta representante para a política externa e política de segurança, está também a política de sanções e estarei totalmente empenhada em fazer com que sejam eficazmente aplicadas e que contribuam para dissuadir e penalizar todos aqueles Estados que desrespeitem o direito internacional, seja em relação a territórios ou direitos humanos”, afirmou na sua intervenção perante uma plateia, na sua maioria, composta por representantes diplomáticos de Portugal nos quatro cantos do mundo. Assim sendo, a TSF perguntou à nova comissária portuguesa na equipa de Ursula von der Leyen se já está em preparação o primeiro pacote de sanções à Rússia sob a sua alçada.
“Há neste momento já está em preparação o 16.º pacote de sanções. Sim, essas negociações, essas conversações já estão a decorrer." Para ser levado ao Conselho Europeu quando? “Eu não tenho presente a data, não sei se já está agendado, mas é para muito breve. Estamos a falar, julgo eu, do próximo mês ou daqui a dois meses, mas não tenho a certeza da data. Neste momento, ainda estamos em negociações. Quando for oportuno, será divulgado."
O objetivo, refere Albuquerque, é ir contrariando “aquilo que são as formas de contornar as sanções que a Rússia tem vindo a conseguir. Portanto, à medida que nós vamos identificando essas formas de contornar as sanções, vamos apertando a malha, digamos assim, e isso faz com que não só seja mais difícil, mas como seja mais caro e mais penalizador para a Rússia. É esse o objetivo das sanções”.
A Comissária Europeia entende que as sanções à Rússia estão a funcionar: “Quando a taxa diretora de um Banco Central está nos 21%, isso significa que a economia não está a correr bem. As sanções têm impacto, mas é evidente que há também as tentativas de contornar e de fugir a essas sanções. E quando falo da eficácia, é o esforço permanente de ir bloqueando essas vias e tornando cada vez mais difícil e mais oneroso a fuga às sanções para, de facto, provocar o impacto económico negativo que possa contribuir para apoiar também a Ucrânia no esforço de guerra”, afirmou aos jornalistas.
A antiga titular das finanças no governo de Passos Coelho, assume preocupação com o atual momento económico alemão: "a situação da económica da Alemanha preocupa-nos a todos", uma vez que a Alemanha "tem sido durante muito tempo o motor económico da Europa. Nenhum país europeu estará bem quando a Alemanha não estiver bem e, portanto, naturalmente que a situação económica alemã nos preocupa. O desafio que enfrenta a Alemanha, mas enfrenta a Europa no seu conjunto, é precisamente perceber qual a melhor forma de recuperar a competitividade. Estamos a falar, no essencial, de decisões políticas, e estas decisões políticas são muito influenciadas por aquilo que é o ar dos tempos".
Na sua intervenção, a comissária tinha falado "do regresso das visões protecionistas, do populismo dos nacionalismos. E naturalmente que estas tendências políticas influenciam as decisões que são tomadas com impacto em termos económicos". Reconhece Maria Luís Albuquerque que há uma "tendência na retórica para promover uma renacionalização" industrial. Aliás, refere, "não é uma tendência só na Europa, infelizmente é uma tendência mais abrangente. Para nós, eu acho que é particularmente grave, porque o objetivo da Europa é precisamente encontrar força na União".
A comissária sugerida por Luís Montenegro para o novo elenco comunitário afirma que "os países europeus deveriam estar neste momento focados em como é que a Europa compete com o mundo e não como é que nós competimos entre nós".
Maria Luís Albuquerque, que foi ministro das Finanças no tempo da Troika, diz que a União Europeia deve combater a pobreza e a exclusão social: “Temos de combater na Europa as causas profundas da pobreza, da desigualdade e da exclusão social e assegurar que as nossas políticas e programas são concebidos para beneficiar todos os cidadãos, independentemente da sua origem, rendimento ou estatuto social, porque o sucesso da União Europeia se medirá, em última análise, da capacidade de preservar os valores que nos unem enquanto povos”, disse na sua intervenção como oradora principal no segundo dia de trabalhos do Seminário Diplomático.
A comissária pretende trabalhar para dar um “melhor futuro financeiro” às pessoas, o que, diz, pode ajudar a resolver, por exemplo, o problema da habitação, que em Portugal, entende a comissária, “é particularmente marcante”.