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A cidade de Orléans tem recebido centenas de migrantes sem que a Câmara Municipal tenha sido informada e sem nenhum plano de acolhimento prévio.
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O Presidente da Câmara de Orléans denuncia a expulsão de centenas de migrantes de Paris para outras cidades francesas. Mais de 60 associações denunciam uma “limpeza social” das ruas de Paris, para os Jogos Olímpicos.
O presidente da Câmara de Orléans, Serge Grouard, está indignado com a chegada de migrantes às cidades periféricas de Paris. Em conferência de imprensa, o autarca acusa o governo francês de estar a expulsar centenas de migrantes em autocarros para fora da capital francesa. "Tive conhecimento desta situação aos poucos, têm chegado pessoas sem-abrigo de Paris. A maior parte das vezes são migrantes em situação irregular. Desde maio de 2023, estas pessoas têm sido expulsas de Paris para Orléans e sem dúvida também para outras cidades", descreveu.
O autarca acrescentou que "todas as quatro semanas, chega um autocarro: a bordo encontram-se entre 30 e 50 pessoas. Posso dizer que chegaram nos últimos meses cerca de 500 pessoas. É um sistema organizado: estes autocarros são disponibilizados pelo Estado que manda essas pessoas para Orléans. Acho que é uma situação inaceitável.
Segundo Serge Grouard, a cidade de Orléans tem recebido centenas de migrantes sem que a Câmara Municipal tenha sido informada e sem nenhum plano de acolhimento prévio. O presidente da câmara associa estas expulsões da capital à preparação dos Jogos Olímpicos de Paris. "Não posso afirmar a cem por cento que seja o caso, mas obviamente, não me parece que se trate de uma simples coincidência", concluiu
As Organizações Não-Governamentais como os Médicos do Mundo partilham da indignação do presidente da Câmara de Orléans: no ano passado, várias centenas de pessoas foram expulsas dos abrigos de migrantes em Paris para outras regiões, a pedido do Estado. É o caso de um hotel localizado no centro de Paris, que expulsou nos últimos dias mais de 400 migrantes. Wiliam, vive neste bairro perto do hotel, considera que esta expulsão se deve à preparação dos Jogos Olímpicos. "Nunca será dito, mas claro que se trata de um hotel localizado a poucos minutos de um novo complexo desportivo dedicado aos Jogos Olímpicos", acredita
Mara vive neste hotel há quatro anos, recebeu uma notificação de expulsão: tinha apenas 24h para sair do hotel. Propuseram-lhe um quarto a mais de duas horas de Paris. "Não conheço ninguém lá. Sinto-me perdida. Não tenho trabalho, não tenho documentos, como é que me vou alimentar?", questiona.
Em declarações à TSF, o conselheiro das comunidades portuguesas em França, Paulo Marques, admitiu que esta realidade “não é algo não habitual” e que acontece por vários fatores, nomeadamente segurança.
“Lembram-se, em Lisboa, com a visita do Papa não se podia circular nas ruas. É o mesmo caso em Paris, onde muitos bairros não vão ter circulação e não vão poder ter pessoas na rua durante esse período”, disse.
No entanto, Paulo Marques apontou um grande problema: “Nada está previsto com antecedência.”
O responsável sublinhou ainda que, assim, não é possível pensar em alternativas de acolhimento.
Mais de 60 associações denunciam uma “limpeza social” das ruas da capital francesa, na preparação dos Jogos Olímpicos de Paris.
