A União Nacional protesta na Place Vauban, em resposta à condenação de Marine Le Pen por desvio de fundos públicos. O partido presidencial Renascimento reúne-se em Saint-Denis. Já os partidos de esquerda concentram-se na Praça da República
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Paris vive este domingo uma jornada de forte tensão política. Três manifestações simultâneas expõem a profunda divisão da sociedade francesa, a dois anos das presidenciais de 2027. Marine Le Pen garante que “não vai ceder”, enquanto a esquerda contra-ataca, acusando a extrema-direita de "hipocrisia".
Na segunda-feira, Le Pen foi condenada a quatro anos de prisão - dois a cumprir com pulseira eletrónica -, ao pagamento de 100 mil euros de multa e a cinco anos de inelegibilidade com efeito imediato. Apesar de ter recorrido da sentença, a líder da extrema-direita acusa a justiça de tentar “roubar-lhe a presidência”.
Favorita nas sondagens para as presidenciais de 2027, Marine Le Pen afirmou esta tarde a sua determinação. “O vosso apoio, as vossas mensagens, o vosso empenho aquecem-nos o coração. Para nós, e para mim em particular, são uma razão a mais para não ceder. Podem ficar tranquilos: eu não vou ceder”, afirmou perante os militantes.
Robert, militante da União Nacional, acusa os partidos tradicionais de se unirem para travar o crescimento da sua força política. “O poder quer afastá-la porque, de certa forma, tem medo da União Nacional. Nota-se, porque em todas as eleições, tanto os Republicanos como A França Insubmissa e a Nova Frente Popular, juntam-se para afundar a Frente Nacional.”
A esquerda respondeu com uma manifestação contra “o avanço da extrema-direita”, que, segundo os organizadores, reuniu cerca de 15.000 pessoas. Jean-Luc Mélenchon apelou à mobilização contra o que classifica como “vitimização manipuladora” por parte da União Nacional.
Para Anis, militante da França Insubmissa, a presença da extrema-direita nas ruas não pode ficar sem resposta: “Quando a extrema-direita decide fazer uma manifestação em Paris, acho que a esquerda tem obviamente de se mobilizar para contrariar isso - somos nós contra eles.”
Marine Tonnelier, líder do partido ecologista, criticou a incoerência da extrema-direita no discurso sobre justiça e alertou para as ambições presidenciais de Le Pen. “Para todos os outros, a justiça deve ser muito menos permissiva, muito mais dura. É preciso tolerância zero, prisão logo à primeira infração e nada de atenuar as penas. Isso é para os outros. Mas quando se trata dos deles, então a justiça é demasiado dura. Já repararam? Porque o mais grave não é só o facto de ela ser hipócrita ou de estar numa lógica completamente conspirativa para se defender da condenação. O mais grave é que ela está de olho nas presidenciais - ela quer ser Presidente da República", descreveu.
Em Saint-Denis, o antigo primeiro-ministro Gabriel Attal participou num comício do partido de Emmanuel Macron, Renascimento, onde acusou a União Nacional de “atacar os juízes” e “as instituições da República”. Para Attal, está em causa “uma ameaça ao Estado de Direito”.
Estas manifestações dão o tom para o que se avizinha. Uma sondagem BFMTV/La Tribune Dimanche, publicada no sábado, mostra a União Nacional destacada na liderança para a primeira volta das presidenciais, qualquer que seja o seu candidato.
Num país profundamente polarizado, Paris é este domingo o epicentro da batalha pelo futuro político de França.
