Vem aí o maior evento político da China e dele deve sair mais um passo para a eternização de Xi Jinping no poder. O jornalista António Caeiro, autor de vários livros sobre o país, diz que o líder do Partido Comunista poderá "literalmente ficar no poder enquanto tiver força e saúde".
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É já no próximo domingo, 16 de outubro, que o Partido Comunista Chinês se reúne em congresso para renovar a liderança de Xi Jinping. A reunião, o mais importante evento da agenda política do país, acontece a cada cinco anos e uma alteração constitucional em 2018 vai permitir ao líder chinês iniciar um terceiro mandato.
A poucos dias da definição do rumo da China para os próximos anos, a TSF ouviu o jornalista António Caeiro, autor desde 2004 de diversos livros sobre o país - como "Pela China Dentro", "Peregrinação Vermelha" ou "Os Retornados de Xangai", editado em 2022 - e com quase 20 anos de trabalho passados em Pequim, que destaca uma "grande mudança" de paradigma face às últimas décadas do país.
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Xi Jinping "poderá literalmente ficar no poder enquanto tiver força e saúde", um contraste face à política de "reforma económica e abertura ao exterior" adotada em 1978.
A ideia chinesa era a de "promover a liderança coletiva" e "uma das primeiras traduções políticas dessa orientação era a limitação de mandatos" em vez do "culto de personalidade em torno de um grande líder", como aconteceu com Mao Tsé-Tung que "governou ou reinou até morrer".
Essa vontade cumpriu-se durante os mandatos de Jiang Zemin e Hu Jintao, mas Xi Jinping "prepara-se para quebrar essa tradição". E para isso vai contribuir o estilo de liderança que tem praticado no Partido Comunista da China, esgotando qualquer oposição e contestação interna com uma "imagem de marca de controlo e disciplina".
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O líder chinês estudou desde cedo "porque é que o Partido Comunista da União Soviética perdeu o poder e o que era um grande partido se dispersou, acabando a própria União Soviética por colapsar".
Daí saiu a convicção de Xi Jinping e do seu círculo de que "a disciplina é o mais importante", rejeitando "cedências, pluralismo, contestação, abertura polícia ou transparência". No partido não há sequer "número dois ou número três, só há um número um, que é Xi Jinping, e o resto da liderança desapareceu".
Entre os assuntos discutidos no congresso do partido estará a questão de Taiwan e das crescentes tensões entre Pequim e Taipé, com Xi Jinping a adotar uma "linha mais dura e assertiva".
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A reunificação dos territórios "tornou-se um pouco mais urgente e passou a ser oficialmente encarada como uma componente indispensável do que a que hoje se chama o sonho chinês do rejuvenescimento nacional da China".
Xi Jinping e a sua liderança sabem que "têm de manter essa pressão sobre Taiwan, mas também sabem, por outro lado, que uma solução forçada ou violenta desse problema terá consequências imprevisíveis", com custos "humanos, psicológicos e económicos demasiado elevados" para o país.