Paulo Rangel surpreendido com cedência "básica e elementar" de Juncker ao populismo
O eurodeputado do PSD, Paulo Rangel reage com "surpresa" perante a intervenção de Jean-Claude Juncker, no Parlamento Europeu, que o presidente da Comissão classificou como "muito ridículo".
Corpo do artigo
O eurodeputado português, parceiro político de Juncker na Europa, Paulo Rangel chega até a dizer que se tratou de "cedência ao populismo".
"Surpreendeu-me imenso que o presidente Juncker, que tem sido um dos grandes combatentes do populismo, tenha cedido de uma forma, diria eu, tão básica e elementar, justamente a uma tirada populista desta natureza", considerou o eurodeputado, exigindo um pedido "formal" de desculpas ao Parlamento Europeu.
Esta manhã, durante o debate balanço da presidência maltesa da União Europeia, Juncker classificou o Parlamento como "ridículo".
"Muito ridículo. Saúdo esses que se deram ao trabalho de estar na sala. Mas, o facto de uns trinta deputados assistirem a este debate demonstra suficientemente que o Parlamento Europeu não é sério", criticou Juncker, dando a entender que os são os próprios eurodeputados que cimentam a ideia de um directório na União Europeia, por não darem tanta importância à presença do primeiro-ministro de Malta.
"Se o senhor Muscat fosse a senhora Merkel, dificilmente se imaginaria [a ausência]. Ou o senhor Macron (...) teríamos uma casa cheia", disse Juncker, justificando a acusação aos eurodeputados. "Vocês são ridículos", chegou a dizer, depois do presidente do Parlamento lhe ter pedido "que fizesse o favor de usar uma linguagem diferente" durante o debate.
"Acho que o presidente [da Comissão] se excedeu completamente e que deve um pedido de desculpas ao Parlamento. Sinceramente, não conheço nenhum Parlamento na Europa, onde um chefe de executivo vá fazer estas considerações sobre o funcionamento do Parlamento e usar o tipo de linguagem - palavras como ridículo e não sério. Parece-me que está para lá de tudo o que é aceitável", afirmou Paulo Rangel, considerando que tal "só é susceptível de ser reparado com um pedido de desculpas formal".
O social-democrata considera normal que os eurodeputados não estivessem presentes na sala, já que "vários estavam reunidos com comissários", com reuniões marcadas "para as oito e meia, para as nove horas, enfim, é impressionante como é que se pode ter uma saída daquelas".
Foi o caso da eurodeputada do Bloco de Esquerda Marisa Matias, que à hora do debate "estava numa audição com o vice-presidente da Comissão [Europeia], [Valdis] Dombrovskis, juntamente como o colega do grupo socialista europeu, sobre o impacto das reformas estruturais nos serviços públicos nos países intervencionados pela troika".
Em declarações à ao DN, o Eurodeputado do PCP, João Ferreira chama a atenção para uma regra do parlamento europeu, que Jean-Claude Juncker bem conhece e que obriga "os deputados a terem que se desdobrar por várias reuniões que ocorrem simultaneamente".
"O Parlamento Europeu permite que, durante os trabalhos em plenário, estejam a decorrer ao mesmo tempo, um sem número de reuniões de comissões [parlamentares], reuniões de grupos políticos, reuniões de conciliação, de negociação de resoluções", esclareceu o eurodeputado do PCP, considerando porém que esta regra é "criticável".
O tom "excessivo" de Jean-Claude Juncker é por isso criticado também pelo eurodeputado do Partido da Terra, José Inácio Faria que não só esteve ausente do debate, mas também do Parlamento, por se encontrar "em Londres, em representação do próprio Parlamento", numa reunião sobre alterações climáticas.
O único português que interveio no debate da manhã, que esteve entre as "três dezenas", no universo de 751, foi o socialista Carlos Zorrinho. No entanto, o eurodeputado reagem num tom critico, em relação ao "excesso" de Juncker, considerando que se trata de um "contributo negativo para a credibilidade da política".
"Estive parcialmente no debate. Mas, por exemplo, tive que me ausentar por minutos (...) porque ao mesmo tempo estava a decorrer o grupo de trabalho para a América Latina [e] também as questões do mercosul e do Brasil e as questões na Venezuela", para as quais Carlos Zorrinho é representante do Parlamento Europeu.
"Para quem representa eleitores, para quem representa áreas [e] para quem representa Portugal na União Europeia, por vezes, o mais importante que tem que ser feito, não é estar no plenário", salientou.
Só esta quarta-feira será divulgada a lista de presenças na sessão plenária de hoje. No entanto, não será possível verificar quem foram as "três dezenas" que mereceram o elogio de Juncker, "por se darem ao trabalho" de estarem presentes na sessão de balanço da presidência maltesa, já que serão registadas as presenças ao longo de toda a sessão e não por debate.
TSF\audio\2017\07\noticias\04\jfg