O líder do governo não consegue convencer o resto dos partidos da necessidade de aumentar o gasto. A medida pode ser aprovada sem recorrer à votação no Congresso dos Deputados
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Pedro Sánchez está decidido a aumentar o investimento em defesa e segurança até aos 2% do PIB, como pede a NATO, mas as negociações para o conseguir não vão ser fáceis. O primeiro-ministro já se reuniu com todos os partidos, exceto a formação de extrema-direita Vox, mas só recebeu apoio de um: o Partido Nacionalista Basco, cujo líder, Aitor Esteban, disse que não iria “fazer política interna com um tema como este”.
Até o sócio de coligação de governo, o Sumar, de Yolanda Díaz, mostrou-se reticente, pelo que Pedro Sánchez pondera aprovar a medida num Real Decreto Lei, que não tem que passar a votação no Congresso dos Deputados para ser aprovado. Uma possibilidade que não agrada a nenhum dos restantes partidos.
“O PP [Partido Popular] não será cúmplice desta anomalia democrática. Se em matéria de segurança e defesa não se ouve o parlamento, estamos a deslizar para um barranco de autocracia. Precisamos de saber qual é o compromisso futuro em defesa e segurança, quanto vai custar, como vamos pagá-lo e que se submeta à votação do Congresso dos Deputados”, disse o líder do PP, Alberto Núñez Feijóo.
O Podemos seguiu o mesmo discurso e o seu porta-voz, Pablo Fernández, frisou que além do partido ser “radicalmente contra o aumento do gasto militar”, considera “totalmente antidemocrático que esta decisão seja tomada sem antes passar pelo Congresso e sem que se possa votar”.
Para tentar forçar o governo a passar a lei pelo Congresso, o Partido Popular vai apresentar esta terça-feira uma iniciativa que visa blindar a necessidade de aprovação do Parlamento para qualquer alteração ao valor investido em defesa. Não é de crer que a iniciativa seja aprovada, mas revela bem o cerco que se está a formar em volta de Pedro Sánchez, que se tem esforçado por expor a necessidade de cumprir com a meta dos 2%.
"Espanha está disposta a cumprir os 2%, por compromisso com a Europa e solidariedade com os países que nos pedem a mesma ajuda que pedimos durante a pandemia. Os países nórdicos e orientais estavam então solidários com a Espanha. Hoje apelam a essa solidariedade para que juntos possamos evitar a ameaça da Rússia de Putin", disse Pedro Sánchez após a reunião com os grupos. “Durante muitos anos, a Europa delegou a segurança e a defesa noutros atores e acho que é hora da Europa dar um passo em frente e aumentar as suas capacidades em defesa e segurança porque ninguém melhor que nós próprios para cuidar de nós próprios”, completou.
Sánchez ainda tem margem de negociação e tentará convencer o resto de partidos a apoiá-lo, a começar pelo Sumar, a quem garantiu que “não se vai cortar nem um cêntimo às políticas sociais para financiar o investimento na defesa”.
O líder do governo frisou, em diversas ocasiões, que não se trata apenas de “gastar mais”, mas sim “gastar melhor”, e sublinhou que, nos tempos que correm, o investimento em defesa e segurança não se limita à faceta militar, e tem “muitas outras patas, como a ciber-segurança e a tecnologia” e que um maior investimento pode significar também um maior desenvolvimento tecnológico e industrial para o país.
Sánchez recorreu ainda ao exemplo de Elon Musk, para lembrar que o dono do satélite Starlink tem o futuro da Ucrânia nas mãos, se decidir apagar o satélite e deixar o exército ucraniano sem informação: “Na Europa nunca fomos competitivos a nível tecnológico e temos de o ser. Queremos que tudo dependa da decisão de uma pessoa? Eu prefiro que a decisão seja de toda a Europa.”
As próximas semanas serão fundamentais para perceber se Sánchez consegue chegar a um acordo parlamentar que permita uma votação no Congresso, ou se a medida é aprovada sem recorrer ao Parlamento.
