Professor no Iraque, Abdennour cansou-se da violência nas ruas de Bagdade. Então pegou na sua arma e deu-lhe uma nova vida.
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Majed Abdennour admite que foi tomado por louco, mas nem isso o demoveu. O iraquiano é professor, queria livrar-se das memórias de guerra em Bagdade e recorreu à música para o fazer. Até aí tudo normal... não fosse o instrumento que escolheu.
É uma Kalashnikov. Ou melhor, era. Abdennour tem a arma desde que, entre 2006 e 2008 - no pico da violência sectária entre Sunitas e Xiitas -, precisou de proteger a família. Nesses anos, a capital iraquiana era controlada por militantes e extremistas islamitas, pelo que todo o cuidado era pouco.
"Do nada, foi como se todos os laços que nos ligavam já não importassem. O Iraque tornou-se num enorme campo de batalha, a guerra estava em todo o lado", disse Abdennour à France24 .
Aí, perguntou-se: "Porquê a guerra? Porquê a violência? Vou transformar tudo isso em música". O professor, agora nos seus "cinquentas", perdeu vários primos e amigos nos ataques. Fazem parte dos mais de 100 mil civis que - segundo dados da Iraq Body Count database - morreram no país entre a invasão norte-americana de 2003 e a retirada das mesmas em 2011.
O conflito passou e Abdennour levou a sua Kalashnikov e a caixa de munições até um ferreiro, que o questionou quanto à transformação da arma.
"Eu disse-lhe: não faça perguntas. Faz isso!"
E teve a certeza de que o ferreiro o achou louco. Desde aí, toca o que quer no seu alaúde que um dia foi uma Kalashnikov. A caixa de ressonância um dia guardou munições, agora amplifica música. Como Abdennour sempre quis.